quarta-feira, 23 de abril de 2008

Carta ao Presidente

Excelentíssimo Senhor Presidente Luís Ignácio Lula da Silva:

Ref. ; Raposa Terra do Sol

1. Não preciso de me apresentar ao Gilberto, nem ao Dulci, nem à Dilma, nem ao César Alvarez, nem ao Tarso e aos demais – mas de não menor importância e consideração; muito menos a V.Exa. que me conhece há mais de duas décadas.

2, Participei de todas as suas campanhas e defendi seu nome quando era difícil e as ditas elites sequer aceitavam ouvi-lo. E o fiz em espaços públicos; o fiz em detalhes mínimos, divulgados pela Imprensa quando justificava até, pretensos erros formais, como no caso da forma oblíqua "conosco"; "Mestre Lula tem razão...". Lembra?

3. E defendi seu nome pela inteligência e modéstia que o Presidente revelou, e.g., ao pedir-me para regressar na manhã de um sábado de 1987 para lhe explicar melhor nossa versão do projeto que viria a se transformar no artigo 178 da Carta do Brasil, infelizmente mutilado em posterior Emenda Constitucional.

4. Esta mensagem não lhe chegará pelo "fale com o Presidente" mas por um dos companheiros de sua assessoria , que me lêem; não declino, porém, de escalar diretamente meu querido Companheiro Ronaldo Cabral.

5. Pois bem: é à sua inteligência que apelo.

6. Vossa Excelência foi eleito por encarnar uma alternativa ao entreguismo e ao derrotismo. Assim foi com a Indústria Naval e a Marinha Mercante da qual V.Exa, ouviu falar, pela primeira vez, com maior profundidade, pela pena e pela voz deste modesto escriba.

7. Sabemos dos projetos no campo da Ciência e Tecnologia que permitirão estabelecer uma verdadeira indústria nacional, porquanto o modelo vigente é cruel. Como admitir que um país da dimensão física e econômica da Coréia do Sul tenha marcas nacionais e exporte automóveis enquanto não temos nenhuma, nenhuma marca brasileira?

8. Pois bem: escrevo-lhe para dizer que o General Augusto Heleno tem total razão no que tange à política indigenista.

9. Não há como duvidar de suas qualidades morais, intelectuais e técnicas; Jorge Félix as conhece. Seu currículum as atesta; este modesto escriba o conhece, desde aluno do Colégio Militar onde tive o privilégio de ser seu colega e aluno de seu saudoso pai, o Tenente-Coronel Professor Ary Pereira, que nas aulas de Geografia nos ensinou a amar e defender cada pedaço deste chão.

10. Vossa Excelência ouviu do General Augusto Heleno a exata tradução do que milhões de brasileiros gostariam de lhe dizer: V.Exa. comete um equívoco horrendo ao criar guetos étnicos no território nacional.

11. Índios, negros, mestiços somos nós todos; V.Exa. e eu, inclusive; mas, a par de políticas pretensamente inclusivas, estamos dividindo a nação brasileira em nichos étnicos.

12. Pior: estamos propiciando aos colonizadores a retomada de políticas invasivas que foram repelidas em todos os tempos, e, com grande repercussão no fim do século XIX, por Plácido de Castro que nos devolveu o Acre.

13. O mesmo Acre que Evo Morales diz que nos foi cedido por um cavalo, sem nenhum protesto dos pretensos aliados de V.Exa.

14. Portanto, Excelência, tenho a perfeita consciência de que minha projeção política é infima, até porque ganho a vida, graças a D, como advogado , profissional liberal; orgulho-me de jamais haver lhe pedido cargos, embora me honre sua reiterada afirmação nos anos 90 de que , sendo Presidente, teria eu o cargo que quisesse relacionado à Marinha Mercante.

15. E é isto, a gratuidade da Fé que me move (e ao Pastor Mozart Noronha, fundador do Partido, exilado e pároco da Comunidade Luterana) que me confere autoridade para alertar V.Exa. que, em regra, as críticas são mais sinceras que os elogios.

16. Ouça o General Augusto Heleno. Corrija o rumo da política entreguista que se pretende impor à Amazônia, porque o futuro não termina ao cabo do Governo de Vossa Excelência.

17. Não macule sua biografia por interesses menores ou análises perfunctórias. Ouça quem, por formação, por cultura e por amor à Pátria, bem mais entende de geopolítica nacional do que alguns curiosos.

18. Amigo é para alertar, ainda que se arrisque a ser inscrito no rol dos desafetos. O amor à Pátria aproximou-nos: espero que não nos afaste.

João Pessoa, 18 de abril de 2008.

Edson Martins Areias

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