quinta-feira, 5 de junho de 2008

LEMBRAI-VOS DA GUERRA


LEMBRAI-VOS DA GUERRA
(AUTORIA DESCONHECIDA)

Imensa formação de brancas cruzes,Desfile mortuário de fantasmas,Exótico mercado de miasmas,Exposição de ossadas e de cruzes…Calado e mudo queda-se o canhão,Apenas trevas cobrem a amplidão,Que outrora foi um campo de batalha…Calada e muda queda-se a metralha,É morta na garganta a voz do obus,O sabre traiçoeiro não reluzDilacerando, ensangüentando a terra…A paz voltou, é terminada a guerra.
Os heróis já tombaram das alturas,Covardes e bravos jazem olvidados,Seus feitos aos livros relegados,Nada mais resta, apenas sepulturas.E eu? Quem sou? Perguntam eu quem sou?Pois bem, eu lhes direi: sou um soldado,Igual a qualquer outroque avançou, combateu, foi derrubado.
Cruzes iguais… Terrivelmente iguais…Exército que cresce mais e mais,No festim diabólico da morte.Aqui jaz o covarde. Ali o forte.Aqui dorme um estranho. Ali estou eu…Mas ninguém sabe como ele morreu…Não se lembram do campo de batalha,Nunca ouviram o riso da metralha…Não sentiram tremer o corpo inteiroAo rugido brutal de um morteiro…Não viram de perto os olhos do inimigo.
Não sentiram o medo do perigo,Que vos faz desejar a morte breve.Nunca sonharam. Nunca, nem de leve.Mas…Nem todos se esqueceram do soldadoQue está longe, bem longe sepultado…
Mamãe, minha boa mãe, se tu soubessesQue tua imagem adornei com flores,Que tuas flores foram minhas preces,Preces colhidas no jardim das dores…
Minha querida mãe, se te contasseO medo que senti sem teu carinho,Um medo horrível de morrer sozinho.Medo mesmo que o medo me matasse…Mas deixei meu abrigo e avanceiJulgando ver a morte a cada passo

Ouvindo o sibilar de um estilhaço…Parei… Pensei em ti… Continuei…Minha querida mãe se te dissesseQue quando derrubou-me uma granadaAtirando-me na terra enlameada,Foi por ti que chamei desesperado.
Por instantes deixei de ser soldadoE fui novamente uma criançaSentindo na morte a esperançaDe ainda adormecer no teu regaço.Mamãe. Matou-me um estilhaço…
Minha querida noiva, por que choras?Relembras certamente as boas horasQue passamos juntos. Só nós dois…Íamos casar. Lembra-te? E depois…E depois uma casa retirada.Cortinas nas janelas enfeitadas,Tu me esperando… eu vindo do quartel…A nossa casa um pequenino céu,Aberto para a vinda de um herdeiro…Meu sonho, meu sonho derradeiro,Foi beijar-te antes de morrer.
Mas ante golpe frio da granada,Beijei apenas a terra ensangüentada.
Mamãe, minha noiva, aqui se encerraUma história de sangue, esta é a guerra.
Não chorem. Tudo agora é terminadoRápido como coisa de soldado…
Mas mamãe…Se novamente a pobre humanidadeMais uma vez em busca da verdadeRufar os seus tambores sobre a TerraAnunciando mais sangue e outra guerra,
Se outro filho a Pátria te exigir,Sem lágrimas mamãe, deixe-o ir…Embora te destrua o coração,Ainda que te alquebre a agoniaPor favor mamãe,Pede a esse irmão,Para que seja também da INFANTARIA !

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