terça-feira, 14 de outubro de 2008

USTRA....A LUTA DE UM BRAVO


Em 12 de outubro recebi o seguinte e-mail do meu correspondente CMG Refdo. Cesar Augusto Santos Azevedo . Como este e-mail está circulando em várias listas da internet., encaminho abaixo a minha resposta ao Cesar Augusto,
Atenciosamente
Carlos Alberto Brilhante Ustra




-----Mensagem Original-----
De: Cesar
Para: CABU
Cc: TERNUMA BRASÍLIA ; EB ; CLUBE DA AERONÁUTICA ; CLUBE MILITAR ; CLUBE NAVAL



Enviada em: domingo, 12 de outubro de 2008 16:34
Assunto: Re: Claudio Humberto, 11/10/2008
Amigo Ustra, eu sempre estive ao seu lado por entender que sua atuação como Comandante do DOI CODE do II EX foi uma atuação marcada pelo profissionalismo e pela justiça firme e estava de acordo com as orientações recebidas de seus legítimos Comandantes.
Apenas não posso estar de acordo com este manifesto que teria sido lançado pela ONG Ternuma, a qual sempre prestigiei, e que agora não posso concordar, pelas razões pelas quais eu passo a explicar, a saber:1) Achei injusto terem classificado de Covarde e Omissa a atuação do nosso Exército e digo nosso por entender ser ele não apenas daqueles que fazem parte de sua constituição e sim de todos nós brasileiros.
2) Qualquer demonstração de desunião entre nós, entre a reserva e a ativa, dificultarão as nossas ações e nos enfraquecerá. A hierarquia e a disciplina, pilares basilares de nossas Instituições, poderão ficar comprometidos
3) Sou, como vc sabe muito bem, oficial de Marinha, CMG Refdo e que tive minha formação inicial feita no saudoso CMRJ, onde solidifiquei os meus princípios morais recebidos naquele educandário militar e que inicialmente recebi de minha família, em especial de meus pais.
4) Naquela época escolar fui colega de turma e amigo do atual general Enzo Martins Peri, companheiro que desde os bancos escolares do CM, passei a adimirar por suas qualidades pessoais e morais. Era sem dúvida um dos mais capacitado moralment. Estudante, inteligente, semprer destacado entre os demais de minha turma. Amigo cordial com que convivi naquele tempo do CMRJ.
5) Ustra, eu pude acompanhar a sua luta e de sua esposa na tentativa de você cumprir a difícil tarefa de comandar o Doi Code do II EX, designação que você nada fez para conseguir. Você terminara a ECEME e se apresentara ao II EX e fora designado oficialmente. Suas qualidades morais atestadas por meu falecido primo, Cel Art Castro Pinto, serviram para que eu passasse a adimira-lo e defende-lo contra as acusações orquestradas, primeiramente pela artista global Beth Mendes, que fazendo parte da comitiva do então Presidente Sarney a uma viagem ao Uruguai, onde você exercia a função de adido militar brasileiro, teceu acusações diretamente pela mídia daquele país, deixou você e sua família constrangidos e numa situação delicada. Caberia a meu ver ao então ministro, General Leonidas, ter cortado qualquer tentativa de vingança gratuita junto ao Presidente contra você e contra o Exército que você representava naquele País amigo e que fora designado por indicação do próprio Exército. Você acabou se envolvendo e servindo de alvo para as futuras ações revanchistas destes terroristas criminosos que hoje fazem parte do atual Governo. Aquela teria sido a oportunidade de uma vez por todas de se por um fim as ações de revanchismo que hoje proliferam contra as Forças Armadas pela ação firme do então ministro Leonidas e seus pares. Deixaram a cobra se criar diante da fraqueza de um Sarney que fora alçado a Presidência contra a vontade política do presidente Figueiredo, quando do falecimento do eleito Tancredo Neves. Mas isto é história e na realidade disto ficou apenas a tentativa que se perpetuou pela vingança bem orquestrada de uma esquerda terrorista contra o movimento de março de 1964 e suas repercussões iniciadas em 1968.
6) Você sabe tão bem como todos nós que o general Enzo, não poderia deixar que sua "tropa" viesse tomar a sua defesa pública num processo judicial que está em marcha e que ainda cabe recursos. Isto poderia por certo vir inclusive a lhe prejudicar, digo a você, Ustra. A meu ver caberia ao Clube Militar e a seus co-irmãos a defesa de tudo aquilo que diz respeito as nossas instituições e a defesa de seus associados no que diz respeito as ações decorrentes do Movimento de 1964, movimento este democrático e que foi conduzido pela ação da Instituição Militar e portanto dentro da esfera dos Clubes Militares, na impossibilidade atualmente desta defesa ser feita diretamente pelos Comandantes de Forças. Muitos colegas acham que o envolvimento dos Clubes seria o início da sindicalização destas instituições. Eu acho que não. Primeiro, desde os primórdios da nossa frágil república, os clubes sempre tiveram um envolvimento político em tudo que dizia respeito aos interesses das Forças Armadas. Segundo, seus Presidentes sempre foram eleitos democraticamente pelo corpo de associados e portanto eles têm a legitimidade de agir em nome da classe militar.
Por outro lado, desde que nossos ex Ministros deixaram de ser "2º escalão" na esfera Federal de Governo, eles perderam força política junto ao governo. Com isto, s.mj, os nossos clubes deveriam ganhar a força que eles perderam ao serem nomeados apenas Comandantes de Forças. Os clubes poderiam sim agir em tudo aquilo que hoje, pela natureza política, nossos Comandantes se sintam "impedidos" de fazê-lo. Observe que hoje em dia o governo quando quer inibir os Comandantes, citam sempre a disciplina e a hierarquia como forma de neutralizar as ações de nossos Comandantes. Assim, e nestes casos, com uma ação inteligente e coordenada, eles, os clubes, através seus Presidentes, deveriam agir ,não para desmerecerem ou tirarem forças dos Comandantes mas para preserva-los inclusive.
Portanto eu advogo que os Clubes MIlitares deveriam agir na sua defesa e na defesa de tudo aquilo que dissesse respeito as ações revanchistas movidas contra militares. Aliás, isto eles têm procurado fazer em conjunto, não talvez com a firmeza que todos nós gostaríamos de ver mas pelo menos dentro do possível. A sociedade civil tem pela classe militar um grande respeito e a palavra dos Clubes Militares é sempre respeitada e acatada pela maioria da sociedade como representativa do meio militar, inclusive pela mídia nacional. Esta seria uma estratégia inteligente de defender-nos contra este revanchismo.
Atenciosamente,
Cesar Augusto Santos Azevedo, CMG Refdo.
PS- Estou enviando cópia por CC aos Presidentes dos Clubes, ao Comandante do EB, ao Grupo Ternuma por tecer considerações que envolviam estas Instituições e por CCO para alguns militares da reserva, alguns mais antigos, para que todos saibam o que eu penso sobre este assunto.


Prezado Cesar Augusto
Sempre recebi e soube de seu apoio à situação em que me encontro, juntamente com minha família. Mas, o que mais me angustia é ver a história ser reescrita, enxovalhando as Forças Armadas, especialmente o Exército , ao qual dediquei praticamente toda minha vida.

Não é apenas opinião minha , mas essa campanha visa muito mais à desmoralização das Forças Armadas do que a mim mesmo. Sou apenas o bode expiatório que carregará todo o peso dos "pecados" que os órgão de segurança possam ter cometido.

Como você mesmo afirma, fui designado oficialmente para uma função que poderia ter sido ocupada por qualquer oficial que tivesse os pré-requisitos exigidos. Procurei cumpri-la com afinco, com firmeza, tentando ser humano e justo. Estive por três anos e quatro meses confrontando uma guerrilha, na qual os combates aconteciam com muita freqüência. O inimigo era perigoso, desconhecido, camuflado no meio da sociedade, treinado e ideológicamente fanatizado. Você bem sabe que a motivação não era a derrubada do regime militar. Nada se passou no DOI que não fosse do conhecimento dos Comandantes da Área, que, evidentemente, repassavam as informações para seus superiores. Cumpri ordens e procurei cumpri-las bem.

1- Quanto ao manifesto do Ternuma - não fui eu que o escrevi -, creio ser um desabafo de quem imagina um subordinado, que cumpriu as ordens recebidas de seus superiores, ser acusado apenas com testemunhos de pessoas envolvidas com a mesma ideologia,e vê seu comandante (ainda que não seja o mesmo) não defendê-lo ou, pelo menos, não defender a Instituição a qual ele pertence.

Não sei se está exagerado ou não. Sou suspeito para falar. Pode não ser covardia, mas a omissão é inegável.

2- Você sabe qual foi minha primeira atitude ao receber o 1º processo (por enquanto são 3) ?

Em primeiro lugar comunicar ao Exército, para saber o que fazer.

Você sabe qual foi o apoio que recebi do Exército ? Nenhuma resposta, nem uma chamada para uma conversa franca, nem um conselho, nenhuma porta se abriu, nada. Foi a maior decepção de minha vida. Afinal, eu não estou sendo processado por um ato pessoal, particular. Estou sendo processado por atos que na época me renderam uma medalha do Pacificador com Palma.

Qual é a demonstração de união entre a ativa e a reserva que existe? Onde está o programa "Conversando com a reserva" ?

Será que não imaginaram como eu me senti? Será que não imaginaram o que minhas duas filhas sentiram ? De minha mulher eu nem falo, porque partiu dela, sempre muito lúcida, companheira e lutadora, a idéia de primeiro comunicar ao Exército para receber orientações e não quebrar a hierarquia.

3- Como você, tive minha formação inicial feita na Escola Preparatória de Porto Alegre onde, também, solidifiquei os meus princípios morais recebidos naquele educandário militar e que inicialmente recebi de minha família, em especial de meus pais. Sempre fui considerado um oficial tranqüilo, ponderado, calmo, cumpridor de ordens e respeitador da hierarquia. Talvez, pelo meu passado, tenha sido escolhido para o cargo.

4- Não tive oportunidade de cruzar em minha vida profissional, nem particular com o General Enzo, mas sei de suas qualidades morais e profissionais, o que não me impede de -, talvez por estar no olho do furacão, engolindo sapos, amarguras e execração pública - imaginar que sua atitude poderia ser outra. Não sei qual. Talvez, nem seja defender-me, mas defender a Instituição. Talvez você entenda a minha posição, se se colocar no meu lugar, vendo seu nome envolvido nesse escândalo, sua família sofrendo e a Marinha dividida em Marinha de ontem e Marinha de hoje.

5- Realmente qualquer um poderia estar no meu lugar. Foi bastante difícil para mim e minha família suportar a tensão desse período.
Não sabia que o saudoso Castro Pinto era seu primo. Tivemos uma boa convivência.

Quanto ao caso Bete Mendes, você está enganado.
O General Leônidas foi um leão em minha defesa. Não aceitou que eu fosse recambiado antes que terminasse o meu tempo de adido e determinou ao CComSEx que soltasse uma nota, publicada nos jornais e depois publicada no meu livro, em que me elogiava e dizia que eu permaneceria no cargo até o fim da missão. Quando voltei do Uruguai escrevi o meu 1 º livro, ainda na ativa. Por esta atitude, quando a turba exigia que eu fosse preso, o então Ministro Leônidas disse pela TV , mais de uma vez, em alto e bom tom, que era um direito meu defender minha honra e a honra de minha família.
Foi o último Ministro a tomar uma atitude nesses casos. Veja o que aconteceu depois com o Avólio...

Você diz : Você acabou se envolvendo e servindo de alvo para futuras ações(...)
Pergunto-lhe, como não me envolver? Quem cala consente. Dou graças a Deus de ter me dado forças para escrever os dois livros, principalmente o último. Pelo menos, alguns jovens têm lido e o retorno tem sido maravilhoso. É pouco, mas é alguma coisa.

A oportunidade para se pôr fim a essas ações revanchistas foi perdida depois que o Ministro Leônidas deixou o ministério. Se cada vez que as Forças Armadas sofressem um ataque houvesse um rebate, se os crimes deles fossem mostrados, se se acabasse com o mito dos "estudantes que lutavam desarmados pela liberdade", isso não teria chegado onde chegou. A culpa vem de longe.

Ganhamos a luta armada mas perdemos a guerra das palavras. A mídia foi toda formada por eles.
Não foi o General Leônidas e seus pares que deixaram a cobra se criar. Foram seus sucessores.

6- Jamais esperei, nem queria, que o General Enzo deixasse sua tropa tomar minha defesa pública num processo judicial (eu diria político e, principalmente, mesmo que eu tivesse cometido os crimes de que me acusam, contra a Lei da Anistia). Você diz que isso poderia vir a me prejudicar .

Pergunto-lhe: o que pensará um jovem capitão ao ver um comandante deixar seu subordinado que cumpriu suas ordens, solto às feras e sem defendê-lo?
Poderão dizer, mas o comandante que deu as ordens não foi o general Enzo. Isso justificaria tamanha omissão? O Exército não é o mesmo? Os tempos é que são outros? Que garantia os oficiais da ativa terão de que com eles não acontecerá o que está acontecendo comigo, caso recebam ordens de empregar a sua tropa?
Serei eu o prejudicado ?

Cesar Augusto, não tenho nada mais a perder. Só não posso perder o respeito de minha família e o respeito por mim mesmo. E é isso que estou tentando manter, apesar de estar quase perdendo as forças.

Realmente venho me decepcionando com alguns chefes. Venho me decepcionando ao longo desses 20 anos, com as Forças Armadas mudas, acuadas, omissas, não especificamente com o meu caso, mas com a defesa das Instituições.

Agradeço sua preocupação e sua sugestão de que os Clubes Militares deveriam agir na minha defesa e na defesa de tudo aquilo que disser respeito às ações revanchistas movidas contra militares (e pode ter certeza que outros virão), mas pode crer que o que me preocupa é justamente o respeito que a sociedade civil tem pela classe militar que acabará abalada por todos esses escândalos.

Creia, eles querem a minha cabeça, mas querem mais, querem o corpo, a alma das Forças Armadas. E, escreva (espero não ver) , acabarão conseguindo.

Atenciosamente

Carlos Alberto Brilhante Ustra - Cel Ref

PS: Envei cópias para os mesmos a quem você enviou este e-mail

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