segunda-feira, 4 de maio de 2009

CARTA AOS JOVENS


Carta aos Jovens

Ternuma Regional Brasília

Gen Ref José Batista de Queiroz

Você, que hoje está iniciando a carreira das armas, certamente já ouviu muitas coisas sobre governos militares. Ouviu falar de ditadura, tortura, arbitrariedade. Só ouviu coisas ruins. Nunca falaram dos guerrilheiros, de suas atrocidades, de seus atentados. Nunca lhe contaram a verdade. Por isso, quero deixar pra você esta mensagem de 50 anos de caserna. Sou isento e equidistante de todas as paixões. Os extremos sempre me fizeram mal. Nasci e me criei no sertão mineiro. Lá estudei e trabalhei como camponês. Convivi com pessoas simples. No campo, a simplicidade é verdejante como relva nas veredas.

Um dia, ingressei no Exército, onde me ensinaram novamente as coisas do sertão e muitas outras. No Exército, senti-me como alguém que escala a montanha e descobre a planície. Na planície, a democracia e o comunismo travavam uma luta de vida e de morte. A gente estava entre o mar e o rochedo. Era uma realidade muito distante da de hoje.

Minha opção foi pela democracia, onde a liberdade tem a sua morada. Ela me recordava o passado. Tinha a magia dos campos, dos rios, das florestas. Tinha o cheiro da virtude e a beleza da oração. Era o útero materno da liberdade. Já o comunismo me dava a sensação de brutalidade, de escravidão, de truculência. Representava um mundo sem encanto, sem primavera. Mais parecia um deserto sem oásis, um mundo sem prece e sem Deus. Era a matriz da heresia e do profano.

Com o tempo, percebi que a democracia tinha suas falhas, suas injustiças, suas misérias. Neste mundo nada é perfeito. O que me parecia mais certo era corrigir os erros, melhorar a democracia, fazê-la produzir bons frutos. Substituí-la pelo comunismo seria o mesmo que trocar o vale pelo deserto, a esperança pela incerteza. Bani-la é abdicar da liberdade. A sua grande deficiência não está no conteúdo, mas nas pessoas que a fazem, nas instituições que a governam. O que ela precisa é de pessoas que lhe dão vida, energia e justiça.

No início dos anos 60, o sonho do comunismo alastrou-se pelo mundo, como as heras se alastram pelos muros. Muitos países acreditaram no canto da sereia. Muitos povos sentiram-se atraídos por miragens. Quem está à morte acredita até no milagre do diabo. O canto socialista ecoou como serenata aos ouvidos das democracias fragilizadas e moribundas. O Brasil era uma delas. Estava mórbido e enfraquecido. Suas Instituições tinham a solidez das cascas. Mais parecia uma árvore retorcida no cerrado, pronta a se entregar ao sopro do vento, do que um coqueiro ereto na praia, resistindo à ventania do mar. O comunismo usou o bem dourado da democracia – a liberdade – para infectar a sociedade e carunchar as instituições.

Ele nunca abre mão da liberdade quando está na oposição, mas sempre a excomunga quando está no poder. O comunismo rejeita o contraditório. Não aceita oposição nem pluralidade. Só aceita o partido único. Todos os países comunistas da época eram assim e agiam desta forma. Fidel Castro mandou executar milhares de dissidentes cubanos e Stalin milhões de cidadãos russos. O crime que cometeram as vítimas era opor-se ao regime.

No Brasil, o comunismo avançava a passos largos, ameaçando de escuridão a democracia e de morte a liberdade. Seus defensores sonhavam com a União Soviética, com a China, com Cuba e com todos os países onde a bandeira da liberdade tinha sido arriada para sempre. Seus ideais não eram os mesmos daqueles muitos brasileiros que deixaram o seu sangue e a sua vida em solo europeu na luta contra a tirania hitleriana.

Essa ameaça comunista às tradições de nosso povo gerou uma reação da sociedade. Todos foram às ruas de mãos dadas, contra o esmagamento da democracia no Brasil. Sem tiro e sem morte, o povo celebrou a vitória. Vitória do navio contra as ondas do mar, do barco contra o banzeiro dos rios.

Os solistas do comunismo ficaram tristes, frustrados e solitários. Era o fim de uma ameaça e o começo de uma luta. Luta em prol de homens livres, de uma sociedade aberta. O funeral da democracia foi interrompido pela vontade de um povo. Essa realidade também ocorreu em vários países.

Inconformados com a derrota, os radicais do comunismo iniciaram uma luta armada. Praticaram atos de violência, torturas, assaltos, assassinatos. Queriam o poder à custa de sangue. Diziam lutar pela restauração da democracia. Seus aliados e patrocinadores, porém, eram países comunistas, onde milhares de cidadãos foram executados. Seus líderes eram Stalin e Fidel Castro. Seu ideal era conquistar o poder e incinerar a liberdade.

Nesse confronto, houve mortes e excessos de ambos os lados. Ambas as partes desrespeitaram direitos humanos. Na época da colonização, da escravidão, da ditadura Vargas também houve desrespeito a esses direitos. Nunca ninguém falou nada. Toda guerra é violenta. Muitos perdem a vida. Só os tolos começam uma luta para perder. No final dos anos 70, o comunismo começou a apresentar sinais de decadência e disfonia. Os toques de alvorada tornaram-se inaudíveis e os de silêncio retumbantes. Os seus violinos deram lugar às rabecas. O mundo inteiro percebeu que o ideal comunista estava tão distante da realidade como o céu está da terra. Ele nada mais era do que uma miragem. Muitos brasileiros que acreditaram nesse sonho e lutaram por ele renunciaram a seus antigos dogmas e adotaram posturas mais realistas e modernas.

A democracia brasileira se restabeleceu. A incerteza deu lugar à esperança. O Brasil amadureceu e nós brasileiros também. O trabalho de todos era construir uma democracia mais sólida, mais justa, mais inclusiva.

A Lei da Anistia, promulgada em 1979, representava um ato de perdão e de conciliação de todos os que lutaram em campos opostos. Era uma reedição de Caxias na Guerra dos Farrapos e dos americanos na Guerra de Secessão. Era um convite de adeus ao passado, de união no presente e de construção do futuro. Brasileiros somos todos nós. Muitos dos que se encontravam exilados retornaram ao Brasil. Incorporaram-se à vida política, sem restrição ou constrangimento. Alguns foram até eleitos. O Brasil estava reformatando uma nova democracia.

Em meados dos anos 80, o mundo assistiu à derrocada do comunismo. Seus tempos de energia tinham chegado ao fim. Não era mais capaz de atrair nem empolgar as massas com seus dogmas. A essência de sua doutrina desmoronou-se aos olhos do mundo. Não passava de um castelo de areia.

No Brasil, até mesmo os comunistas mais radicais retiraram esse nome de suas siglas partidárias. Os militares recolheram-se aos quartéis, dedicando-se inteiramente às atividades profissionais. A Constituição de 1988 restabeleceu a plenitude democrática e o Estado de Direito. Os comunistas abandonaram a sua ideologia ortodoxa. Muitos migraram para outros partidos.

Em 2002, a esquerda chegou ao poder. O povo brasileiro assistiu a essa mudança com a naturalidade de um país amadurecido, preocupado em dar mais vigor à democracia, em construir um futuro melhor.

Ao contrário do comunismo, a democracia admite a alternância, a pluralidade, o contraditório. Alguns adversários, porém, aproveitando-se do poder, fazem tudo para obstruir a conciliação. Com espírito revanchista, querem a todo custo reinterpretar a Lei da Anistia e colocar militares no banco dos réus. Não estão interessados no futuro, mas no passado. Sua obsessão não são os problemas de milhões de brasileiros, mas a punição de meia dúzia de pessoas. Por meio delas querem atingir as Forças Armadas e todos os militares. Seu ideal não é a conciliação, mas a vingança, própria dos ditadores e dos regimes autoritários.

É muito difícil conviver com essas pessoas. Hoje se julgam donos do poder, donos do Brasil. Um dia, porém, não estarão mais lá. A democracia nos dá o direito da livre escolha. Uma escolha sem fraudes, sem mutilações. É o que desejamos e o que esperamos. Ela nos dá também esperança. A mesma dos rios que sonham com o mar, a mesma do sol que espera o dia. Esperança e futuro são indissociáveis. Estão ligados entre si como a montanha à planície, como o oceano à terra, como a vida à morte. As Forças Armadas são como águas que nunca param de correr. São Instituições permanentes, imantadas de vida, de tradições, de amor ao Brasil. Elas se destinam à defesa da Pátria, dos poderes constitucionais. É o que reza a Constituição. Elas representam a alma de nossa gente. Jamais permitirão afronta à Soberania e quebra da Unidade Nacional. Não são vontades destoantes e revanchistas que irão ofuscar as instituições militares. Por mais que queiram, não conseguirão sobrepor seu desejo de vingança ao espírito conciliador do nosso povo. Os homens são árvores que morrem, são vidas que acabam, são dias que anoitecem. Não são como as Instituições, que têm vida própria.

A democracia é mais forte do que eles. Ela é um patrimônio do povo brasileiro. É o altar onde brilha a nossa liberdade. É o núcleo de nossa história, a pedra que enfrenta o tempo. É na democracia que depositamos a nossa fé e esperança. Ela é o caminho de nosso destino e o desejo de nossa gente.

A maior arma da democracia não é a espada, mas o amor que o povo tem à liberdade. Esta é como o vento suave que roça o mar, a terra e o céu. Aquela é como a chuva forte que alimenta os campos, os rios e as matas.

A única maneira de nos afastarmos de ditaduras é aperfeiçoando o desempenho da democracia e iluminando o sorriso da liberdade.

P.S. Fica autorizada e publicação da presente carta.

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