terça-feira, 4 de agosto de 2009
LEMBRAM DOS TUPAMAROS ?
LEMBRAM DOS TUPAMAROS?
O dia 31 de julho de 1970 é uma data que alguns jornalistas que estavam em Montevidéu jamais esquecerão. Fazia tanto frio quanto o desta última sexta-feira e, por coincidência do calendário, aquele distante 31 de julho de 1970 também caiu numa sexta-feira, 39 anos atrás. Naquele dia, o Movimento de Libertação Nacional - Tupamaros realizava a sua maior ação de guerrilha urbana, na capital uruguaia, ao seqüestrar dois estrangeiros que movimentaram os governos do presidente Emilio Garrastazu Médici e do presidente Richard Nixon. As vítimas foram o cônsul brasileiro Aloysio Dias Gomide e o norte-americano Dan Mitrione, oficialmente um funcionário da Agência Internacional para o Desenvolvimento (USAID), mas, de acordo com os Tupamaros, um policial ligado à CIA, especialista em “novas técnicas de investigação, onde incluía-se a tortura como método de interrogatório”. Os Tupamaros pareciam ter o controle de Montevidéu pela forma como agiam e pela audácia de suas operações. Eles já tinham realizado outros seqüestros, mas sem a repercussão internacional que o MLN desejava. Com Gomide e Mitrione, os Tupamaros ganharam as manchetes internacionais e a presença de jornalistas estrangeiros na capital do país garantiu a divulgação desejada pelos guerrilheiros urbanos uruguaios. O governo ficou prensado entre os Tupamaros e as cobranças dos governos dos EUA e do Brasil. Richard Nixon enviou nota para Pacheco Areco pedindo esforços para preservar a vida de Mitrione, mas “sem negociar com o terror”, tendo o presidente Médici feito o mesmo, só que com uma mensagem tão enérgica que parecia um ultimato pela preservação da vida do cônsul Aloysio Gomide. Quando Montevidéu ainda estava ocupada militarmente pela Polícia e pelas Forças Armadas que vasculhavam casa por casa em busca dos seqüestrados, sete dias depois, os Tupamaros seqüestraram outro cidadão norte-americano, o técnico agrícola Claude Fly, este sim, levado por engano, confundido como mais um “agente da CIA”. Os 25 mil homens fardados e à paisana que reviravam Montevidéu pelo avesso não conseguiram impedir mais essa ação do MLN. Claude Fly foi libertado meses depois. Aloysio Dias Gomide só conseguiu a liberdade em fevereiro de 1971 e Dan Mitrione foi “justiçado” por um tribunal tupamaro no dia 10 de agosto. Seu corpo, dentro de um Buick 1952, com quatro tiros (dois na cabeça, um no peito e um nas costas), estava na Rua Lucas Loreno, na capital uruguaia, com as mãos amarradas e amordaçado.
DAN MITRIONE
A morte de Dan Mitrione deixou o Uruguai perplexo. Ninguém acreditava que os Tupamaros pudessem executar algum refém da forma como o agente americano foi sentenciado. Registrou-se, assim, a primeira derrota tática do MLN numa escalada que acabaria totalmente com o grupo, três anos depois. Os Tupamaros não conseguiram o intento principal dos seqüestros – a libertação de 150 prisioneiros – e ainda sofreram outro revés com a prisão dos seus líderes, como Raul Sendic, este o comandante em chefe da organização. Mas o que mais afetou o MLN foi a perda da simpatia da opinião pública uruguaia e internacional, já que se confirmou o que o governo tentava mostrar: os Tupamaros “eram terroristas e também assassinos.”
RAUL SENDIC
O comandante supremo dos Tupamaros, Raul Sendic, 38 anos, acabou preso uma semana depois dos seqüestros. Com ele, foram capturados mais oito membros do MLN numa casa de classe média alta, em Malvin, um bairro considerado “da elite uruguaia”, às margens do Rio da Prata. O governo tinha o seu primeiro trunfo, pois o grupo preso era o alto comando dos Tupamaros. Quando Sendic tinha 30 anos promoveu uma marcha dos plantadores de cana do departamento de Artigas em Montevidéu, ingressando na clandestinidade, ao fracassar sua intenção de criar um confronto campo x cidade. Esteve preso e, ao ser solto, optou por criar o MLN-Tupamaros recrutando jovens estudantes e profissionais liberais e partindo para a guerrilha urbana com assaltos a bancos, seqüestros e ações audaciosas.
CENSURA INGÊNUA
O governo uruguaio não sabia lidar com a guerrilha urbana e sofreu várias derrotas humilhantes até receber o instrutor policial Dan Mitrione que por ser um expert em terrorismo urbano modificou o sistema operacional da luta contra os Tupamaros. A censura sobre a imprensa nacional restringia-se a proibição da palavra “Tupamaros”. As notícias nos jornais, nas rádios e na televisão referiam-se aos imnombrables (os inomináveis), aos mal vivientes ou, ainda, aos sediciosos. A censura limitou-se a isso, pois a mesma imprensa uruguaia noticiou que no prédio do comando das investigações, a polícia estaria usando o soro da verdade, Pentotal, para arrancar confissões dos prisioneiros. Nunca se confirmou esse tipo de interrogatório.
QUASE...
Nos primeiros dias dos seqüestros, chegou-se a comentar a possibilidade de o Brasil invadir o Uruguai. A operação caberia ao então III Exército, com sede em Porto Alegre, e os jornais uruguaios noticiaram a presença de paraquedistas brasileiros, em Santana do Livramento. O Brasil invadiria o Uruguai para ajudar na busca ao cônsul brasileiro. Mas tudo não passou de imaginação fértil da imprensa em Montevidéu e do desejo de alguns falcões militares do Brasil.
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