quarta-feira, 19 de agosto de 2009

~LINA AOS LEÕES



Lina aos leões



Ernesto Caruso, 19/08/2009



O jeito de ser do PT transformou ontem o Senado, sem a presença de Incitatus — mas lembrou — em arena do Coliseu, reeditando o espetáculo, cristãos versus leões, onde a serenidade da ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira teve que enfrentar a destemperança de alguns senadores da base política do governo Lula.

A senadora Ideli Salvati, do PT, depois de azeitar a sua fala e até pedir desculpa, disparou o dardo da agressividade: “VS mentiu na entrevista à Folha, ou está mentido agora.” Eis que Lina Vieira, sem perder a calma, respondeu que confirmava a entrevista com o que expusera naquele momento, diante da Comissão. A incompreensão da senadora repousa no fato do pedido da ministra Dilma Roussef para agilizar a investigação daquela instituição sobre o filho do senador Sarney, como exposto nas duas oportunidades e a expressão que se sucede, “para encerrar, logo”, como se esta tivesse o significado de suspender o processo. Lina Vieira de maneira alguma diz que a ministra mandou aprofundar ou sequer influir positiva ou negativamente na apuração, como entendi, mas não deixa de considerar uma intromissão descabida e desnecessária, pois ao retornar e verificar o processo, constata que a Justiça já determinara a agilização.

A ordem de atacar de Lula na véspera foi cumprida no evento, pois fizeram foco na agenda, algo que fosse apresentado por escrito, ao que Lina Vieira respondeu que para falar a verdade não precisa de agenda. Relata com pormenores desde o convite para uma reunião reservada, feito pela secretária Casa Civil, Erenice Guerra (já envolvida em outros escândalos) até o deslocamento por meio de transporte terceirizado, fácil de se verificar, chegada à garagem, etc..., completando, que não é fantasma, e tudo deve estar filmado pelas câmeras do Palácio. Reunião reservada, sabe-se lá com que objetivos, fora da hierarquia, rápida como dito, uns dez minutos, não deve constar em agendas.

O senador Mercadante levanta uma agressiva alternativa; a antiga auxiliar do governo, como secretária da Receita, mentiu quanto à reunião ou prevaricou por não denunciar a ministra pelo cometimento de falta grave, ao que Lina Viera confirma a solicitação da agilização do processo do filho do Sarney, sem emitir juízo de valor. O senador parecia enraivecido pelo tom de voz diante da serenidade.

Um outro ponto debatido foi a entrevista, como se a ex-secretária tivesse provocado por ter sido demitida do cargo. Disse que foi procurada pelos jornalistas e solicitada a confirmar a reunião com a ministra Dilma.

Sobre esse assunto, o senador Suplicy, muito sorridente e serpenteando por entre as palavras, perguntou se a ex-secretária não tratara da reunião com o seu marido, lá presente e adulado pelo senador, e que em conversa informal transmitira a existência da reunião. Escutou da questionada que ela aborda atividades do trabalho com familiares.

Sobre a Petrobrás respondeu ao senador Erasmo Dias que fora convidada para comparecer à Comissão de Justiça para debater a respeito da reunião com a ministra Dilma e não se preparara para responder ao quesito formulado, mas não recuou quando o senador Mercadante a desafiou nesse tema e aí o senador resolveu deixar para outra oportunidade. Diga-se que na CPI da Petrobrás a mestra tropa de choque rejeitou o requerimento de ouvi-la. Temem o quê, se foi tão desprezado o seu depoimento, pois com escárnio o senador Jucá, disse não tinha mais que estar presente, saindo de rompante.

Ao longo das inquisições, a ex-secretária diz não entender o por quê da negativa por parte da ministra Dilma sobre o encontro, mencionada com respeito, bem como sem uma crítica ao antigo chefe ministro Mantega, nem pelo fato de demiti-la.

Bastante pressionada, não consegue se lembrar da data da ocorrência, mas que foi no fim de 2008. Daí a confusão provocada referente aos objetivos da ministra no ano passado, naturalmente diverso deste momento quando vêem à tona as denúncias dos jornais contra Sarney e vivida a fase da defendê-lo; naquela época não.

Sarney foi eleito em 2 fev de 2009, mas as possíveis candidaturas apareceram em outubro de 2008, a de Tião Viana do PT, logo definida, e a de Sarney pelo PMDB.

Embora a transparência lulopetista divulgasse que Tião Viana e Sarney satisfizessem a base governista, claro que Tião Viana atenderia em melhores condições os objetivos para as eleições de 2010, sem ter que barganhar nada com o PMDB. Mas, por baixo dos panos não agem assim...

As notícias antecedentes à eleição efetiva demonstram o que foi feito e as intenções.

Em 29 Dez 2008, extraído do Estadão: “Brasília - A líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), informou hoje ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que a candidatura do senador Tião Viana (AC) a presidente do Congresso está mantida. Ideli e o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), disseram a Lula que o senador José Sarney (PMDB-AP) não deve entrar na disputa. "A nossa avaliação é que está mantida a posição do senador Sarney, de não ser candidato" disse ela.”

Em 21 Jan 2009, da Agência Brasil, Ivan Richard: “Brasília - A líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), afirmou hoje (21) que a candidatura de Tião Viana (PT-AC) à presidência do Senado é irreversível. A senadora lamentou a decisão do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) de entrar na disputa, após declarar várias vezes que não seria candidato. “Estamos em uma situação política que não foi criada por nós. Lamentamos que a situação tenha chegado a esse grau de constrangimento”, disse a líder petista, argumentando que a candidatura de Viana surgiu porque Sarney, desde novembro, vem afirmando que não seria candidato. “As declarações do Sarney eram públicas e notórias. Só para o Tião foram cinco vezes, olho no olho”, disse Ideli. “Estamos mantendo nosso acordo na Câmara e não temos como recuar agora, ainda mais com partidos anunciando apoio, como o PDT e o P-SOL. Agora, vamos para o voto”, completou.”

Logo, a vontade da ministra, quando de forma simplista pediu para agilizar a investigação sobre o filho de Sarney, que alguns entenderam como para abafar e defender o senador Sarney na fase crítica atual, no fim do ano passado era o contrário, orquestrado com outros órgãos investigativos: impedir a sua candidatura à presidência do Senado.

Agora, o governo Lula não tem outra saída, deve assegurar a presidência com Sarney com todas as armas e artimanhas, e não correr riscos neste final de 2009 e entrar na reta final das eleições em 2010, com Maquiavel de saia.

As apurações são meros trunfos, cartas na manga, usadas em cada oportunidade contra quem os desafia, particularmente contra os aliados que precisam ser alijados.

Um comentário:

  1. E vocês ainda continuam acreditando que esse quadro dantesco em que nos encontramos, será revertido pelas urnas eleitorais???

    ResponderExcluir