Desafiando o Rio-Mar: Tamaniquá/Flutuante Aranapu
Há mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam”. (Henry Ford)
Há mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam”. (Henry Ford)
Hiram Reis e Silva (*)
- Tamaniquá
Aguardei o Romeu, que estava envolvido com as aulas de remo para a criançada, na casa do Chico e da Dona Maria ‘Capivara’. Degustamos alguns ‘din-dins’ (sacolés ou geladinhos) e ficamos conversando com nosso monossilábico amigo Chico. Fomos convidados pelos donos da casa a saborear um jantar à base de peixe frito e uma caldeirada de piranha acompanhada de feijão com jerimum produzidos na roça da família e, logicamente, a saborosa farinha regional. Após o jantar fomos ultimar os preparativos para a partida.
- Largada para o Flutuante Aranapu
Na manhã de 24 de dezembro, nossos amigos Chico e Dona Maria ‘Capivara’ estavam a postos na margem, para as despedidas. É impressionante como a amizade pode surgir em tão breves momentos de contato, em locais tão ermos, com pessoas com histórias de vida tão diversas. Partimos taciturnos, levando a lembrança do carinho e da atenção dos queridos amigos que deixamos em Tamaniquá.
- Aru
Na Amazônia o caboclo chama a neblina de Aru. Aru é o sapo que deposita seus ovos numa densa espuma presa às vegetações aquáticas. A neblina parece presa às copas das arvores e talvez por isso a analogia.
- Navegando na Aru
Seguindo o conselho do Chico, encostamos na margem direita do Solimões, que era a menos alterada pela violência do rio, já que nesta altura ele faz uma pronunciada curva à esquerda. Recomendei, devido à neblina, que o Romeu diminuísse a distância para que não perdêssemos o contato visual.
- Na boca do Aranapu
Depois de duas paradas, avistamos a boca do Paraná Aranapu. Como o GPS apontava uma distância de mais uns 5 quilômetros até o flutuante e estas informações a respeito da localização do flutuante eram conflitantes, pus-me a buscar ratificação com ribeirinhos de um flutuante próximo, à jusante. Confirmados os dados do GPS, tivemos de ‘arribar’, remando vigorosamente contra a correnteza do Solimões para entrar no Aranapu e, depois de 40 minutos, aportamos no flutuante Aranapu do Instituto Mamirauá. O senhor Cláudio, zelador do flutuante, já nos esperava e nos acolheu gentilmente nas confortáveis instalações.
- Afluente de si mesmo
“A inconstância tumultuária do rio retrata-se ademais nas suas curvas infindáveis, desesperadoramente enleadas, recordando o roteiro indeciso de um caminhante perdido, a esmar horizontes, volvendo-se a todos os rumos ou arrojando-se à ventura em repentinos atalhos. ... ou vai, noutros pontos, em furos inopinados, afluir nos seus grandes afluentes, tornando-se ilogicamente tributário dos próprios tributários: sempre desordenado, e revolto, e vacilante, destruindo e construindo, reconstruindo e devastando, apagando numa hora o que erigiu em decênios - com a ânsia, com a tortura, com o exaspero de monstruoso artista incontentável a retocar, a refazer e a recomeçar perpetuamente um quadro indefinido...” (Euclides da Cunha)
O Aranapu é um paraná que une o Solimões ao Japurá e que, segundo o senhor Cláudio, nos últimos 18 anos, apenas em duas oportunidades, o Solimões recebeu águas do Japurá por intermédio do Aranapu.
A sabedoria de Euclides da Cunha se torna patente mais uma vez. O Rio-menino é afluente dele mesmo ao lançar suas águas no Japurá através do Aranapu e recebê-las, mais adiante, de volta.
- Contato com a Comunidade
Assistimos a um torneio de futebol, promovido pelo Cláudio, no estádio ‘Moça Bonita’, cujo troféu era um porquinho. Tiramos algumas fotos, conversamos com os populares e o Romeu, mais uma vez, promoveu uma aulinha de canoagem para os mais jovens.
- Preocupações extra-amazônicas
Os dias têm se sucedido melhor do que planejáramos. O rendimento dos caiaques, o apoio de autoridades e populares, o clima, normalmente agradável na parte da manhã, tudo tem contribuído favoravelmente para nosso otimismo. Apenas duas coisas me inquietam o sono e me preocupam;: minha família e a renovação de meu contrato como professor do Colégio Militar de Porto Alegre. A saúde de minha esposa tem sido uma constante preocupação nestes cinco últimos anos e os altos custos com medicação e enfermagem reforçam a necessidade de continuar exercendo as atividades de professor para complementar o salário. O General Farias hipotecou sua palavra de oficial e cavalheiro que meu retorno estava garantido mas, infelizmente, ainda não tivemos a efetivação confirmada.
- Natal em Mamirauá
O Romeu improvisou um quibe sem carne, que foi nossa ceia de Natal. Fomos acompanhados pelo amigo Cláudio, o que tornou a noite bastante agradável. A noite foi fresca; havia chovido à tarde toda e dormimos muito bem nos preparando para o ‘Horizonte’.
(*) Coronel de Engenharia; professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB); presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
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