Notícias Militares

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Tenente- coronel WALTER


TENENTE-CORONEL WALTHER - 'Eu cometi o crime em defesa dos meus comandados'


Fernando KleinData: 22 de outubro de 1987. Horário: 10 horas. Cerca de 50 militares do 30ºBatalhão de Infantaria Motorizado (BIMtz) desembarcam em quatro viaturas emfrente à Prefeitura de Apucarana, a 60 quilômetros de Maringá, cercam oprédio e impedem a entrada e saída de pessoas. Na frente dos homens armadoscom fuzis e pistolas está o capitão Luiz Fernando Walther de Almeida, de 34anos.Acompanhado por um grupo de soldados, ele invade o gabinete e entrega aoassessor do prefeito carta de protesto contra os baixos salários e adeficiência do atendimento de saúde aos militares. A atitude abala o Brasil,fazendo renascer o 'fantasma' da ditadura, ainda vivo na memória dapopulação. Imprensa e lideranças políticas da época repudiam a atitude, mastudo indica que o protesto surte efeito. Na mesma noite, o então presidenteJosé Sarney anuncia, em rede nacional, reajuste de 25% para todos osmilitares do Exército, Marinha e Aeronáutica. O comando do Exército, porém,diz que o aumento já estava programado.Aos 50 anos de idade, Walther, tenente-coronel da reserva, atua como chefede segurança do principal shopping do Rio de Janeiro, onde vive com a esposae três filhos. Do escritório do shopping, fala por telefone sobre o episódioe, pela primeira vez, dá a sua versão sobre a história. Lembrando de todosos detalhes daquela manhã do dia 22 de outubro de 87, ele garante: estavacerto. 'Me ensinaram nas escolas militares que o militar zela pelascondições de vida digna dos seus comandados, tanto quanto pela manutenção dadisciplina e dos deveres castrenses. Eu levei isso ao máximo, talvez além.Eu cometi o crime para chamar a atenção de uma situação injusta e hoje, semmedo de errar, negligente da época', afirma.Ele nega que queria reviver a ditadura e diz acreditar que, mesmo sem 'nuncater sido sindicalista' e apesar de o Exército negar, tenha conseguido umreajuste que nenhuma entidade sindical conseguiu até hoje no Brasil. Depoisde sair de Apucarana, Walther passou por Curitiba, Salvador, Brasília e Riode Janeiro, onde se aposentou no ano passado. Leia abaixo, na íntegra, aentrevista concedida pelo militar da reserva.Como surgiu a idéia de cercar a prefeitura e protestar contra os baixossalários da tropa?Eu saí de uma reunião (no 30º BIMtz) em que foram lidos alguns documentos,um dos quais dizia que o hospital não atenderia mais os conveniados do Fusex(Fundo de Saúde do Exército) a partir do dia 31 de outubro, porque acontribuição estava muito defasada. Outro documento informava que nósteríamos que pagar a mudança dos uniformes, obrigatória naquele ano. Parater uma idéia, uma jaqueta verde-oliva custava um terço do que ganhavalíquido um terceiro-sargento. Foi lido nesse dia ainda sobre a situação dafamília de um sub-tenente de Cascavel que havia falecido e deixado a viúvacom quatro ou cinco filhos, e a família estava em petição de miséria. Écerto que o clima já era de insatisfação. Havia alguns antecedentes, porexemplo, a mulher de um capitão que morava embaixo do meu apartamento teveuma fratura no braço ou na perna, e esse capitão não tinha dinheiro parabancar o atendimento. Os tenentes meus tinham bicicleta e não automóvel.Naquela manhã, quando saí do auditório e me dirigi a minha subunidade (1ªCompanhia de Fuzileiros), me reuni com os quatro tenentes da companhia ecomecei a falar com eles [sobre a situação]. Entrei num estado de desabafo,e eles ficaram quietos. Quando saíram da sala, disse ao último deles: toquea campainha de alarme. Aí ele tocou o alarme e eu mandei entrar em forma sócom o equipamento leve [munição 762]. Ato contínuo, puxei uma folha derascunho e escrevi o protesto de próprio punho em 20 segundos. Então,comecei a pensar o que faria. Três coisas me passaram pela cabeça: bloqueara rodovia em frente ao batalhão, fazer a operação em um meio de comunicaçãoou cercar a prefeitura. Nesse tempo que a tropa estava se preparando, eutirei várias cópias do rascunho - já tinha decidido onde seria o protesto.Pensou em desistir em algum momento?Senti três frios na espinha. Primeiro, quando vi a tropa pronta e liguei aviatura; podia ter mandado desembarcar todo mundo. A segunda, quando ia sairdo quartel, que poderia não ter saído e voltado. A terceira, quando peguei aestrada, que ainda dava para voltar, pois havia um retorno próximo aoquartel.E como foi ao chegar à prefeitura?Antes de sair, no quartel, os tenentes me perguntaram o que estavaacontecendo, porque estranharam minha reação quando a tropa estava pronta noquartel. Disse que era um treinamento: defesa de ponto sensível. Elesperguntaram onde. Disse que não sabia. Então, o tenente subcomandante dacompanhia disse que o exercício estava errado, porque ele, comosubcomandante, não podia sair sem saber para onde. Então, peguei uma folhade papel e esbocei para eles: aqui é a prefeitura, aqui a Câmara; o teupelotão cerca por fora aqui; o teu por fora ali; o teu ocupa a prefeiturapor dentro, as janelas; e o quarto pelotão, o de apoio [morteiro emetralhadora], não vai, porque vai ter uma tarefa especial: distribuir ospanfletos [na imprensa]. E tudo aconteceu entre 9 e 10 horas da manhã. Aação durou de 10 a 15 minutos.E a reação dos funcionários da prefeitura?Todos dizem que eu chutei a porta do prefeito, mas não foi bem assim. Estavacom a metralhadora cruzada no peito, no gabinete do prefeito, que éprecedido por três entradas, frontal e duas laterais; e quando chegamos nafrontal perguntei pelo prefeito, disseram que não estava; perguntei pelochefe de gabinete, me mandaram para a direita; não tinha ninguém, voltei efui para a esquerda, procurando o Zanoni [Ariovaldo Zanoni, chefe dogabinete], quando voltei na sala - você sob tensão faz coisas diferentes -em vez de bater com a porta, eu bati com o coturno embaixo. A minha intençãoera chamar atenção das pessoas para abrir a porta. Realmente bati com ocoturno debaixo da porta, mais forte do que com a mão em cima, mas nãoqueria derrubar a porta. O Kaminski [Wilson Kaminski, assessor do prefeito]então disse que eu tinha enfiado o pé na porta, o que não era verdade.Como foi a volta ao quartel?Quando voltei, me despedi e desarmei a tropa, procedimento normal deexercício. Passei o comando ao tenente e, nesse momento, a tropa soube quefiz o protesto. Só então falei para os soldados, elogiei a conduta deles edisse que, junto com o exercício, tinha feito um protesto, e que seriaseveramente punido por isso. Até me lembro bem que falei que fiz aquilo poramor ao Exército. Dirigi-me ao major [subcomandante da unidade] e ele meprendeu porque saí da unidade sem autorização. A partir daí, fiquei preso.Deixei-me punir, porque assinei flagrante depois de 24 horas.Como foi a punição? A carreira foi muito afetada?Na carreira, a única coisa que afetou foi a não-promoção a coronel (fui paraa reserva como tenente-coronel). Quanto à punição, fui a julgamento emCuritiba, na 5ª Circunscrição Judiciária Militar, tendo sido condenado atrês anos de prisão. Daí, fui julgado no Superior Tribunal Militar, emBrasília, onde a pena caiu para oito meses. Então, acabei beneficiado porindulto natalino e cumpri apenas cinco meses de prisão. Nesse período,fiquei deslocado da família por dois anos, porque o Exército cometeu váriosabusos. Me transferiram para Curitiba - um capitão do Exército com trêsfilhos pequenos, o mais velho com 10 anos -, e me fizeram deixar a famíliaem Apucarana, sem clima para ela. Em 88, a minha mulher e os filhos forammorar em Ribeirão Preto (SP). Eu ainda voltei em 89 para Apucarana, porqueme deixaram numa situação esquisita, esdrúxula; fiquei em Curitiba baseadocomo militar do 30º BIMtz, sem receber transferência, sem receber pelamudança. Fiquei lá à disposição da Justiça, deslocado.O reajuste concedido na época foi reflexo do protesto?Em uma entrevista à Folha (Folha de S. Paulo), o então ministro da FazendaBresser Pereira, demissionário do cargo, falou sobre esse aumento aosmilitares e disse que o reajuste foi um absurdo (a situação econômica doPaís não permitia). O Exército, por sua vez, disse que o aumento já estavagarantido...Como o senhor avalia as conseqüências?Me ensinaram nas escolas militares que o militar zela pelas condições devida digna dos seus comandados, tanto quanto pela manutenção da disciplina edos deveres castrenses. Eu levei isso ao máximo, talvez além. Eu cometi ocrime para chamar a atenção de uma situação injusta e hoje, sem medo deerrar, negligente da época. Hoje sou tenente-coronel e sei muito bem o queaquele capitão fez e eu sabia que ele ia pagar por aquilo; eu digo que elepagou o preço disso.O senhor faria de novo?[Hesitação] Olha, só digo que não tenho arrependimento. Já coragem parafazer [pausa], mas tive outras bravatas, na verdade, nunca deixei de seraquele capitão, não. Eu nunca deixei de ser. É claro que a idade pesa. Atépouco tempo, essa história me emocionava muito, mas o hoje o tempo fez comque esse episódio fizesse parte da lembrança boa da minha vida. Hoje, souconhecido por aquela atitude. Aquilo que fiz foi realmente ímpeto, coragem eética, porque decidi contra mim o tempo todo, contra a minha família. Osaldo foi positivo. Eu não dediquei ao Exército, apesar de ter dito aquilonaquela hora à tropa. Foi para quem eu comandava; eles sabem que fiz poreles. Quando lembro de certas coisas tenho certeza de que deveria ter feito.O meu subtenente, por exemplo. Ele servia numa cidade e a família noutra. Afamília estava em Curitiba. Nos 15 anos da filha dele - ele não esquece dafesta da filha -, porque não tinha condições financeiras nem o Exércitooferecia tratamento para corrigir os dentes da menina, que eram para afrente. Ele não tinha como resolver aquilo e sofria barbaridade por causadisso. Hoje, as coisas mudaram.O senhor acha que passou pela cabeça das pessoas e governantes da época ofantasma da ditadura?Não tive o menor apoio dos setores da esquerda local, como a própria Igreja,que me viram como filhote da ditadura e se equivocaram. Mas eu estavadefendendo os interesses dos mais simples e não de nenhum graúdo. Embora osgenerais também ganhassem 25% de reajuste naquela noite, não foi neles queestava pensando. Estava pensando nos meus comandados, que não tinhamdinheiro para cuidar dos dentes dos filhos. Nunca fui líder sindical (risos) mas acho que ninguém conseguiu um reajuste desses. Eles dizem que já tinhamdado o reajuste, mas...A repercussão surpreendeu o senhor?Esse episódio aconteceu às 10 horas da manhã. Quando saí da prefeitura, oKaminski ligou para o Scarpelini [Carlos Scarpelini, prefeito da época], queestava no gabinete do irmão [deputado José Domingos Scarpelini]. Um ligoupara o governador Alvaro Dias e outro para um deputado federal do Paraná emBrasília. Esse parlamentar, então, foi ao Congresso, onde estava sendodiscutida por deputados e senadores a Constituinte [aprovada em 88]; elepediu a palavra na tribuna e disse: 'senhores, eu acabo de tomarconhecimento que neste momento está havendo uma rebelião militar no Paraná,em Apucarana'. Quando o presidente José Sarney soube, o serviço deinformações do Exército ainda não sabia. O presidente ficou de 10h30 até às14h30 sem saber o que estava acontecendo de fato. Ninguém sabia por quatrohoras o que estava ocorrendo e isso é muita coisa! O presidente ficar porquatro horas sem saber o que estava acontecendo? Isso porque o ministro doExército estava na China; meu comandante não estava, tinha viajado paraMarechal Hermes (SC) para realizar reconhecimento da área onde ocorreriammanobras do Comando Militar do Sul. Neste reconhecimento, estavam também ocomandante do Comando Militar do Sul e o comandante da 5ª Brigada Militar,de Cascavel. Eles não tinham comunicação, pois estavam no meio do mato. Umavião então foi buscar o general do Comando. Enquanto os comandantes nãofalam, ninguém sabe o que acontece. O mais alto escalão do País, portanto,não sabia o que estava ocorrendo. Pode pesquisar: nesse dia estava previstaa posse de dois ministros, o que foi cancelado. Daí, às 20 horas, anunciapelo Jornal Nacional o reajuste de 25% aos militares e dizem que o aumentojá estava dado e que me precipitei, sei lá...O senhor encerrou a carreira como tenente-coronel. Isso não lhe frustrou?Eu poderia ter seguido. Eu fiz a Escola de Comando do Estado Maior doExército, que prepara os generais. O problema é que não me reabiliteijudicialmente. Achava que de alguma forma o Exército iria me reabilitar. Nãotenho mágoa por isso. Eu não pedi reabilitação judicial, o que deveria terfeito dez anos atrás e só fiz no ano passado, quando não tinha tempo útilpara reverter mais nada. Eu deixei o barco andar.Imagem/Arquivo Tribuna do NorteWalther, na época: 'Me viram como filhote da ditadura'* Entrevista de Fernando Klein publicada originalmente pelo jornal 'Tribunado Norte', de Apucarana, na edição de aniversário deste ano do município,comemorado no dia 28 de janeiro

3 comentários:

Mente aberta disse...

Prezado TC WALTER..
Pouquíssimos homens da caserna têm a coragem moral de afrontar o "carrerismo" em prol dos companheiros de armas..Cumprimento-o pela "decisão & ação" tomada à época..

abrçs e sucessos..

P.S: Na ocasião, era aluno do CMC e, em janeiro, havia estado em seu PC para um diálogo rápido..

Airton Farias_ Cap res ñ rem

Anônimo disse...

...nós somos da pátria amada
fieis soldados por ela amada

amada???????


que decadência!!!!!

essa foi a última vez que entro nesse blog-

na pátria onde nasci e creci, haviam verdadeiros soldados, que lamentavelmente já não mais existem!





Jango é chamado de herói por Lula!!!
Governo concede anistia política a João Goulart.
Lula chama ex-presidente de herói

O ex-presidente João Goulart, deposto em 1964, foi anistiado neste sábado, por unanimidade, pela Comissão de Anistia. Sua viúva, Maria Tereza Goulart, também foi anistiada. Com a decisão, a família do ex-presidente vai receber uma indenização de R$ 650 mil, e a viúva, uma pensão de R$ 5.500. É a primeira vez que um ex-presidente é anistiado por perseguição política.

Anônimo disse...

ACABARAM-SE OS "COM AQUILO ROXO.'
MORMENTE AGORA EM QUE O "ÔMI"
CHAMA MARIGHELA DE HERÓI.

SAUDAÇÕES.