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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Amorim rebate críticas e defende general














Novo ministro da Defesa diz que não dá para partidarizar as Forças Armadas e elogia o comandante do Exército

Amorim afirma que país terá de comprar novos caças para a FAB, mas não dá para dizer qual será o momento exato
ELIANE CANTANHÊDE

Em resposta a seus críticos militares, o novo ministro da Defesa, Celso Amorim, provoca: "Você não pode fazer das Forças Armadas uma coisa partidária nem para a esquerda, nem para a direita". Em entrevista no novo gabinete, Amorim, 69, disse que o comandante do Exército, general Enzo Peri parece uma pessoa "não apenas ilibada, mas até um asceta". Relatório do TCU diz que Enzo favoreceu firmas ligadas a militares ao dispensá-las de licitação de 2003 a 2007.

Folha - O sr. é "esquerdista"?
Celso Amorim - Esses rótulos, é melhor deixar os outros colocarem. Uns dizem que fui colocado pela presidente Dilma por ser nacionalista, o que agrada aos militares. Outros, que foi porque sou esquerdista, o que não agrada a eles. Mas, no Brasil, nacionalismo não é confundido com esquerdismo?

O sr. mantém a crítica que fez na revista "Carta Capital" ao voto favorável do governo Dilma a um relator da ONU para apurar abusos contra direitos humanos no Irã?
Hoje eu sou parte do governo e tenho de participar solidariamente das decisões do governo, e essa pasta pertence a outro ministro. Como intelectual independente, o que eu escrevi e disse claramente é que, se fosse eu, não teria tomado aquela atitude.

Uma crítica de militares ao sr. é a ligação com o Irã.
Nós nunca ficamos amiguinhos do Irã, que não é uma prioridade da política externa. O que foi prioridade, em determinado momento, foi resolver um problema grave para o mundo: o programa nuclear do Irã.

O sr. escreveu que não são satisfatórias as relações entre o poder civil e os militares e a responsabilidade por atos da época da ditadura. Como avançar nos dois casos?
Não me recordo das palavras exatas, mas não disse que não são satisfatórias, mas que talvez alguns não vejam como satisfatórias. Uma constatação, mais que um juízo de valor. A subordinação das Forças Armadas ao poder civil é clara.

Por que não falou da Comissão da Verdade na posse? O sr. defende a responsabilização de militares por atos na ditadura?
O principal é o restabelecimento da verdade. Com bom senso de todos os lados e boa articulação política, que cabe ao ministro da Justiça, chegaremos a uma boa conclusão.

O general Augusto Heleno...
A quem aprecio, pelo bom trabalho que fez no Haiti.

... disse que o comprometimento ideológico tem repercussão altamente negativa entre os militares.
Você não pode fazer das Forças Armadas uma coisa partidária, nem para a esquerda, nem para a direita, nem para o centro. Para isso nós temos a presidente da República, que é quem escolhe e quem decide e que foi eleita pelo povo brasileiro.

Pergunta de um oficial: e se fosse um general mandando no Itamaraty?
Diplomatas são disciplinados, e já houve ministro militar: Juracy Magalhães.

A presidente deu sinal de que vai descontingenciar verbas?
Vou conversar com os ministros da área econômica. Qual a solução? Quando? Não sei. Vamos ver.

E os caças?
Os caças terão que vir. Achava isso como ministro das Relações Exteriores e continuo achando como ministro da Defesa. O momento exato não dá para dizer.

O sr. prefere os Rafale?
No governo Lula parecia que o que tinha mais condições de fazer transferência de tecnologia era o francês. Mas não acompanhei o desenrolar das discussões sobre isso e a renegociação de preços.

Como tocar o programa nuclear da Marinha sem verba?
Vai ter recursos sim. A presidente é nacionalista, patriota e sabe da importância de proteger os nossos recursos, principalmente a camada do pré-sal.

E o acordo com os EUA para o uso da base de Alcântara?
Foi paralisado no Congresso porque não tem cabimento brasileiros não terem acesso a certos lugares no território nacional. É uma questão de soberania inegociável, e não uma questão ideológica.

Jobim e o sr. estabeleceram uma linha de distanciamento dos EUA, mas Patriota faz uma linha de aproximação. Onde o sr. se encaixa agora?
Jobim até patrocinou, junto conosco, um acordo militar com os EUA. Temos de ter a cabeça aberta, acabar com a mania de que o que é a favor do Brasil é contra os EUA.

Por que defende sair do Haiti?
Dizem que democracia é quando um presidente passa o governo a outro presidente eleito. É hora de discutir uma saída organizada, inclusive com ONU. Uma possibilidade é deixar um batalhão de engenharia do Exército.

O comandante Enzo Peri é investigado por ter assinado 27 contratos sem licitação. O sr. vai tomar providências?
Bom, o general me disse que já há investigações iniciadas por ele.

Vai investigar ele próprio?
É preciso separar o joio do trigo. Tenho 50 anos de serviço público e conheço as pessoas pelo olho. O general Enzo me dá a impressão de uma pessoa não apenas ilibada, mas até de um asceta. O que tiver de ser investigado será.

Genoino vai ficar na Defesa?
Vai. E pode botar um ponto de exclamação.

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