quinta-feira, 16 de julho de 2009
O EXÉRCITO É O MESMO DE ANTES
''O Exército é o mesmo de antes, apenas se adapta''
Responsável pela logística das buscas no Araguaia, ele discorda de que nova geração de oficiais é diferente da antecessora
Leonencio Nossa
Com experiências em missões complexas no exterior, o general Mário Lúcio Araujo, responsável pela logística da expedição de buscas de corpos de guerrilheiros do Araguaia, recebeu muitos avisos de que entraria num novo campo minado no Pará. Ele evita polêmicas ideológicas e prefere não fazer comentários de um episódio que marcou em definitivo a vida de uma geração de militares. A todo momento, um batalhão de jornalistas e representantes de entidades políticas e sociais quer ouvir dele, um oficial formado no pós-guerrilha, precisamente em 1977, a opinião sobre o conflito no Bico do Papagaio.
Em rápida entrevista num restaurante de beira de estrada, no exato local onde existia um posto policial atacado em 1973 pelos guerrilheiros - maior feito dos comunistas no Araguaia -, ele cobra compreensão das atitudes dos militares durante o conflito, pede respeito aos oficiais que participaram dos combates e diz que todas as experiências, especialmente a inteligência desenvolvida durante a guerrilha, são úteis na doutrina e na formação dos quadros das Forças Armadas.
O general, que estudou história, discorda da tese de que a geração atual de oficiais não tem vínculos com a que a antecedeu. É como um interessado na história que ele enxerga o conflito. "O Exército de hoje é o mesmo de antes, apenas se adapta a novas realidades."
Embora o senhor seja ''apenas'' o responsável pela logística, não teme pelo fracasso dos trabalhos, mesmo dando uma satisfação à Justiça?
Primeiramente, quem está à frente do trabalho é Ministério da Defesa, que ativou o Exército para apoiar na logística e administrativamente o grupo de especialistas. É esse grupo que vai aos locais determinados tentar localizar e identificar os restos mortais das pessoas envolvidas na chamada Guerrilha do Araguaia (1972-1975). Não gostaria de falar em fracasso. Estamos trabalhando para que a missão tenha êxito.
Para o Exército vai ser bom encontrar os restos mortais dos guerrilheiros?
O Exército Brasileiro reconhece os anseios das famílias que tiveram parentes envolvidos nesse episódio e cujos corpos não foram localizados. Encontrar restos mortais dessas pessoas é bom para todos. Assim, vamos virar uma página da história e seguiremos em frente.
Qual a lição que o Exército tirou da atuação contra a guerrilha?
Meu trabalho aqui é dar apoio ao grupo.
O senhor mantém o cronograma de começar as escavações em agosto?
Posso adiantar que estava previsto que estaríamos neste local neste terceiro dia de trabalho de reconhecimento de áreas. A fase de escavações pode começar por volta do dia 10 de agosto. Estamos trabalhando, nesta fase de reconhecimento, em 14 pontos predeterminados. Novos locais poderão ser agregados.
Qual é a diferença deste trabalho para outras missões de que o senhor participou?
Do ponto de vista militar, estamos acostumados realizar este tipo de operação. É um trabalho de apoio logístico, de aproximar técnicos, para que consigam atingir seus objetivos.
Dizem que o senhor gosta muito de estudar história. O capítulo do Araguaia o atrai?
Quando eu cheguei aqui para comandar a 23ª Brigada de Infantaria de Selva, responsável por toda a área de Imperatriz, Marabá, Tucuruí e Itaituba, passei a realizar leituras sobre o assunto. É uma literatura muito interessante.
As experiências e a inteligência no Araguaia são úteis na academia militar?
Todas as experiências de guerra não-convencional influem na doutrina. É assim no caso do Vietnã, de Angola, do Haiti. A doutrina é uma ciência viva, estamos aprendendo todos os dias. Há questões importantes para serem estudadas, como o fator de decisão, a inteligência, o terreno, o tempo, os meios
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