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segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

CAI POR TERRA RELAÇÃO ENTRE MILITARES E JOBIM

CAI POR TERRA RELAÇÃO ENTRE MILITARES E JOBIM
Ministro nega definição de reajuste. Militares reagem.

Sucursal Rio.

Os ânimos estão, mais do que nunca, exaltados na caserna. O imbróglio que se arrasta há dois anos agora tem um desfecho completamente inesperado: O ministro Nelson Jobim, da Defesa, negou na semana passada que houvesse definido percentuais para o tão aguardado reajuste salarial dos militares. A negação, em nota oficial, causou perplexidade na tropa, que reclama receber o menor salário do Executivo.

A reportagem ouviu cerca de 60 militares, de oficiais a soldados, além de interlocutores no Ministério da Defesa e preservou, a pedido, os nomes dos entrevistados no Rio de Janeiro e em Brasília. Foi constatado que as reclamações refletem o que a imprensa já vem retratando: o sucateamento e a desvalorização de seus integrantes está desestimulando os profissionais que, para honrar seus compromissos, recorrem a "bicos" e a cursos preparatórios para concursos na área civil.

Hélio Souza, gerente de um dos mais renomados cursos preparatórios para concursos públicos no Rio, confirma: "Nossa melhor clientela são os militares. Basta comprovar sua situação e ganhar descontos." Segundo Hélio, há uma enorme corrida de militares em direção à saída das Forças Armadas. "Por aqui já passaram cerca de 100 aprovados, e a procura só aumenta. Por outro lado, o número de candidatos a concursos militares está diminuindo". Situação semelhante ocorre em Brasília, conhecida como a "capital dos concursos públicos". Mais da metade dos militares que buscam outras carreiras fora das Forças é de profissionais com uma média de 15 anos de carreira.

Esta tendência é comprovada por estatística feita pelo Deputxdo Federal e Capitão do Exército Jair Bolsonaro (PP), ao reafirmar que o número de pedidos de baixa (saída da força a que pertence) de oficiais nas três forças (Marinha, Exército e Aeronáutica) já é maior que o número de oficiais que vêm se formando nas academias. Segundo ele, "As Forças já estão no limite. Há mais oficiais dando baixa do que se formando. A evasão é, principalmente, devida aos salários da categoria, os mais baixos do Executivo", sentencia. Além dos baixos soldos, o deputxdo cita outro fator de desestímulo: os baixos investimentos em materiais e pesquisas, o que também frustra a capacidade técnica dos profissionais envolvidos em projetos, principalmente na área de tecnologia. Bolsonaro foi preso pelo Exército em 1986, por 15 dias, após ter declarado à imprensa a baixa remuneração dos militares e hoje uma de suas reinvindicações no Congresso ainda é "a situação vexatória dos salários dos militares".

Insatisfação e engodos.

Ivone Luzardo, Presidente da União Nacional das Esposas dos Militares (Unemfa), confirma: "A relação com o governo ficou insustentável. Nossos maridos têm em média 20 anos de serviço e ganham a metade do que ganha um Policial Militar com 1 ano de trabalho em Brasília. Apesar disso, os militares federais sempre estão num 3º ou 4º plano, sempre recebendo engodos". Segundo ela, a isonomia com a Polícia Federal seria uma forma justa de reestabelecer os salários que, de acordo com ela, estão "aviltados há mais de uma década". Ivone, que é a única representante junto ao governo (os militares são, por lei, impedidos de se manifestar publicamente), está à frente das manifestações contra os baixos salários dos militares. Segundo ela, desde 2004 ela tem total apoio para representá-los. E obteve o reconhecimento da classe na busca de melhorias salariais quando conseguiu reunir-se com o então ministro da Defesa, José Alencar, e sensibilizá-lo, ocasião em que conseguiu um "modesto, mas importante reajuste para a tropa", conclui.

Fontes do Ministério da Defesa confidenciaram que as relações entre os comandantes das Forças e Jobim estão de fato "delicadamente instáveis". O ministro, apelidado de "Rolando Lero" pelos oficiais, já cogita a hipótese de deixar a Defesa em função do desgastre enfrentado com os Comandantes das forças. Pressionado pelos militares, afirmou que o reajuste jamais fora acordado, o que causou a ira da classe militar. A deterioração da relação teria se confirmado depois que os comandantes divulgaram nota confirmando o reajuste, numa tentativa de desmentir Jobim e conter os ânimos da tropa. Após esse impasse, as negociações sobre os reajustes deixaram de existir nas agendas de reunião de Jobim e iniciou-se o desgaste.

Apesar da nota divulgada pelos comandantes, os militares de mais baixa patente estão inconformados com a situação, já que não mais crêem numa resolução justa para o problema e, sobretudo, porque sentem um tratamento diferenciado (para pior) do governo para com a caserna. Como exemplo, citam a recomposição dada aos Policial Militares de Brasília pela quarta vez, enquanto os militares federais receberam uma, em menor percentual, dividida ainda em dois anos. A Polícia de Brasília recebe seus vencimentos da mesma fonte que os militares - Governo Federal. Protestos inflamados se multiplicaram pelo país e é fácil encontrar na Internet discussões acaloradas a respeito do assunto, com combinações de militares para retaliações a membros do governo, paralizações e operações padrão.

Normalidade

Procurados pela reportagem para comentar a repercussão dos fatos, os centros de Comunicação Social das três forças não quiseram se manifestar. Limitaram-se a afirmar, surpreendentemente, que o clima nos quartéis é de normalidade e que desconhecem qualquer insatisfação em seus quadros e que os militares são impedidos de se manifestar com greves ou paralizações. À Aeronáutica foi indagado se não há risco de um novo apagão aéreo, ocasionado por operações padrão surpresa de controladores de tráfego aéreo, mas não foi obtida resposta.

Consequências imprevisíveis

O governo não vem proporcionando às Forças Armadas o devido tratamento. Além da tropa ter obrigações, direitos, prerrogativas e limitações constitucionais capituladas na Constituição de 88, existe a tipicidade da carreira, do seu plano de cargos e salários que exige dedicação exclusiva, disponibilidade permanente, risco de vida, insalubridade, sujeição a princípios rígidos de Hierarquia e Disciplina e outras características intrínsecas que acabam por gerar seqüelas no relacionamento social e educacional familiar. Por tudo isso, a classe militar faz jus ao reconhecimento do país, tanto em investimentos quanto em remuneração justa e adequada.

As Forças Armadas têm se omitido, em nome da disciplina e fidelidade constitucional, de fazer frente aos descasos orçamentários a que estão expostos, pelo menos até agora. Mas desaparelhadas e com a tropa desmotivada com baixos salários, provocadas ainda por trapalhadas ministeriais, passam a externar a alegação de serem discriminadas pelo governo por puro revanchismo político, idéias até o momento limitada aos muros dos quartéis. Reações como as que ocorrem hoje mostram que não há, por parte da Defesa, intenção de se resgatar o respeito e a devida importância que as Forças Armadas representam para a manutenção da soberania nacional, o que vem provocando manifestações como as que hoje ocorrem. A sensação de falta de comando e liderança por parte do governo, em especial do Ministério da Defesa, pode levar a consequências imprevisíveis. O governo (não) está pagando para ver.

Para saber mais:
Quanto ganha (em média) um:

- Tenente da PM de Brasília: R$ 7.900,00
- Tenente da Marinha: R$ 3.500,00

- Sargento da PMDF: 5.500,00
- Sargento da Aeronáutica: R$ 1.800,00

- Coronel da PMDF: R$ 14.000,00
- Coronel do Exército: R$ 8.500,00

Cidade News (Sucursal Rio)
Colaboraram: Sucursais Brasília e São Paulo.

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