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terça-feira, 29 de janeiro de 2008

A Confissão de Drceu

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

'CONFISSÃO DE DIRCEU PÕE EM DÚVIDA ARGUMENTO DE QUE LULA NADA SABIA'

Para ex-sub-relator da CPI dos Correios, declarações de ex-ministro justificam abertura de nova investigação parlamentar

Eugênia Lopes, BRASÍLIA

Sub-relator de movimentação financeira da CPI dos Correios, o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) considerou uma confissão de crime as declarações do ex-ministro José Dirceu de que recursos provenientes de caixa 2 financiaram a construção da sede do PT em Porto Alegre - segundo entrevista à revista Piauí, "era com mala de dinheiro" que os recursos para pagar a obra chegavam. Para o tucano, o objetivo de Dirceu é enfraquecer o ministro da Justiça, Tarso Genro, petista gaúcho que nos últimos anos foi um crítico contundente dos métodos usados pelo ex-ministro da Casa Civil no comando do PT.

Os ataques do ex-ministro foram dirigidos mais explicitamente aos petistas Raul Pont, ex-prefeito de Porto Alegre, e Olívio Dutra, presidente do partido no Rio Grande do Sul. De acordo com ele, "esse pessoal" procurava o então tesoureiro do partido, Delúbio Soares, peça-chave do esquema do mensalão, para pedir dinheiro. "Chegava para Delúbio e falava: 'Delúbio, preciso de 1 milhão.'" Quando não recebiam, contou o ex-ministro, acusavam a direção do partido de ser autoritária e de privilegiar sua própria corrente. "O pobre do Delúbio tinha de ir aos empresários conseguir doações. Aí, estoura o mensalão e esse pessoal vem dizer que o Delúbio era o homem da mala. O que não dizem é que a mala era para eles", declarou Dirceu na entrevista.



O episódio valeu uma cobrança do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Marco Aurélio Mello, para quem a Receita Federal deve investigar o caso."Se a sede foi construída com dinheiro de caixa 2, que ela fiscalize. Ela não precisa da quebra generalizada do sigilo de dados para isso", defendeu anteontem. Para Marco Aurélio, a Justiça Eleitoral não pode investigar um assunto já passado.



Para Gustavo Fruet, as declarações justificam até a abertura de nova investigação parlamentar sobre o caso, pois põem em dúvida o argumento de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não sabia do esquema do mensalão. "Era o braço direito do presidente da República", observa nesta entrevista ao Estado.

- As declarações dadas pelo ex-ministro José Dirceu servem para a abertura de uma nova CPI?

- Sou favorável a outra CPI, até porque muitas coisas não acabaram de ser investigadas. Existem informações enviadas à CPI dos Correios que até hoje não foram abertas, porque estão sob sigilo. Esse material está todo parado e só pode ser aberto se for criada uma comissão de inquérito sobre o mensalão. Mas acho muito difícil porque não temos maioria na Câmara para instalar uma CPI. Veja o caso da CPI da Crise Aérea, que só começou a funcionar por decisão do Supremo Tribunal Federal.

- Nada será feito com a confissão do ex-ministro?

- Acho que o procurador-geral da República deve juntar essa entrevista ao inquérito do mensalão, que está em andamento no Supremo Tribunal Federal. O Zé Dirceu sempre negou que soubesse do esquema montado pelo ex-tesoureiro petista Delúbio Soares. Essa confissão do ex-ministro reforça também o fato de que o Delúbio não agia sem o respaldo do partido.

- As declarações do ex-ministro atingem o presidente Lula?

- Isso coloca em questão o argumento de que o presidente Lula não sabia de nada. O Zé Dirceu fez uma confissão e era o ministro da Casa Civil de Lula. Era o braço direito do presidente da República.

- Qual o objetivo de José Dirceu em confessar a existência de caixa 2 para construir sede do PT no Rio Grande do Sul?

- O Zé Dirceu retomou um tema que estava adormecido. Acho que ele fez isso para enfraquecer o ministro Tarso Genro. Além disso, o ex-ministro está contradizendo toda sua defesa, que afirma que ele não sabia de nada. Para mim, essas declarações são um recado interno. Existe uma briga interna no PT. E o Zé Dirceu se diz vítima do que chamou de falso moralismo de integrantes do partido, principalmente dos gaúchos.

- O que a oposição pode fazer com essa denúncia?

- Pela Câmara, nós podemos fazer um pedido de informação ao ministro Tarso Genro sobre as declarações de Zé Dirceu. Para mim, o mais grave é contra o Tarso Genro, porque ele é o ministro da Justiça. Ele tem de se explicar. O Zé Dirceu pode ter bala na agulha e pode estar querendo acuar o Tarso Genro. O ministro tem de vir a público esclarecer isso. Também vamos pedir para que essas denúncias sejam incluídas e investigadas no inquérito ainda em andamento na Polícia Federal sobre o mensalão.

- É o caso de convocar o ministro Tarso Genro?

- É claro. Mas onde isso tem chances de acontecer é no Senado. Na Câmara é pouco provável porque o governo tem maioria para derrubar nossos pedidos. Já no Senado é mais fácil, porque a oposição é mais forte. Como tem relação com o mensalão, acredito que o ministro poderia ser convocado para se explicar na Comissão de Fiscalização do Senado. Qualquer dos envolvidos pode ser convocado por uma comissão permanente da Câmara ou do Senado para dar explicações.

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