Notícias Militares

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

CARTA AO ALTO COMANDO DO EB

Carta aberta ao Alto Comando do Exército

Exmos. Srs. Generais do Alto Comando do Exército Brasileiro


Conheço-os todos, alguns há mais de quarenta anos, e sou plenamente convencido de sua capacidade de ostentarem, com todos os méritos, as quatro estrelas de general. Da maioria, tive o prazer de acompanhar os primeiros passos em busca do oficialato, quando servi, como capitão já aperfeiçoado, na Academia Militar das Agulhas Negras, no biênio 1966/67. De alguns participei diretamente da formação, como comandante da Companhia de Cadetes de Infantaria; diga-se de passagem, a função de que mais me orgulho em meus quase quarenta anos como oficial. A ela só se compara a grande satisfação de haver comandado o 2º Batalhão de Polícia do Exército, em São Paulo, em 1981/82/83.
Outros foram meus subordinados imediatos ou serviram em guarnições onde pude acompanhar de perto seus desempenhos. Daí que tomo a liberdade de dirigir-me a Vossas Excelências para lhes fazer um apelo. Muito em breve, em função da lei que limita a permanência no serviço ativo, Vossas Excelências também estarão na reserva e verão que não há impertinência em se demonstrar algumas preocupações. Particularmente, se elas tratam da preservação da imagem do nosso Exército que, hoje, Vossas Excelências conduzem, dando continuidade - e certamente melhorando - ao que nós, agora chamados inativos, ajudamos a construir. Somando nossas inteligências e nossos esforços aos de nossos antepassados, legamos a Vossas Excelências e a quantos ainda são ativos uma Instituição (assim mesmo com maiúscula) sempre lembrada nas pesquisas como das mais confiáveis da Nação Brasileira, senão a mais entre todas. Muito embora parte da mídia procure negar, o fato é incontestável.
Qual a razão de meu apelo ? Tenho acompanhado, pela Internet, manifestações seguidas de desagrado quanto ao sucateamento da Força Terrestre e quanto à defasagem da remuneração. Eu mesmo já me manifestei, diversas vezes, mas sempre com o cuidado de não ferir a hierarquia e a disciplina. Agora, no entanto, os acontecimentos estão tomando rumos perigosos, quando se vê falar em manifestações coordenadas em todo o Brasil, com data previamente determinada e possível participação de pessoal da ativa. Há sugestões de movimentos paredistas, caracterizados pelo não cumprimento de missões.
É, também, fator de inquietação saber que um 3º sargento do Quadro Especial, servindo numa organização de Brasília, teria manifestado sua opinião quanto à " necessidade de se acabar com o atual exército burguês e criar um exército do povo do tipo das FARC"; digo teria porque não tenho como comprovar a verdade do que recebi em e-mail. Como, até agora, ninguém desmentiu e foi citado o nome do possível autor da deslealdade explícita, a coisa vai tomando aspecto de verdade. São nuvens negras para manchar, sem trocadilho, qualquer céu de brigadeiro. São ameaças que podem causar danos à honorabilidade de nossa força e das forças irmãs. De onde partem os incentivos para que isso aconteça ? Quem serão os beneficiados se as impolutas forças federais se alinharem aos sindicatos com paralisações, greves, arruaças ou manifestações semelhantes ? Perderemos a credibilidade e terão nossos detratores motivos para nos ridicularizar ?

Para não me alongar, eu apelo para o patriotismo e para a responsabilidade de Vossas Excelências a fim de que reajam, com toda a firmeza que as atuais circunstâncias parecem exigir, no sentido de que o respeito devido ao Exército Brasileiro seja mantido. Que essa reação se caracterize por uma postura firme em que as respostas às agressões ou às demonstrações de desprestígio não sejam omitidas ou postergadas, como vêm sendo. É da sabedoria popular a velha e acertada afirmativa "quem cala consente". Não há cargo ou posição cuja manutenção compense um silêncio obsequioso ou uma contemplação inerte. Por conhecê-los e respeitá-los, confio em Vossas Excelências.

Brasília,DF, 18 de janeiro de 2008.

Gen Div Murillo Neves Tavares da Silva

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