domingo, 5 de junho de 2011
NO TEMPO DAS DILIGÊNCIAS
Sou um saudosista. Fui um viciado em filmes do velho oeste. E foi ali, na tela côncava de um antigo cinema em minha terra natal, pelas palavras, gestos e heróicas atitudes dos mais variados personagens que compunham o cenário das tramas das fitas de mocinhos, que foram inculcados em meu pensamento de menino valores éticos, virtudes e inesquecíveis definições do bem e do mal. São conceituações que até os dias atuais me acompanham como marcas delineadoras de meu caráter e, fatalmente, direcionam o meu comportamento na vida social. Estudei pouca filosofia. Assisti muitos filmes. Não queria ser professor, queria ser mocinho.
Recordo-me que naquela época de belos sonhos, germinou em minha alma os primeiros desejos de busca do entendimento do comportamento humano, nas figuras do herói, na do bandido inconseqüente e estarrecedor e na de outros personagens da época que, como no filme "No tempo das diligências", ainda despertam e povoam minha mente com pensamentos comparativos, como que a vasculhar no passado à cata de possíveis entendimentos e soluções de fatos vividos no real e no agora. Ah, como eu queria ser um herói! Cresci, mas fiquei apenas como mais um índio na tribo.
Lá na película em preto e branco, cujo título original é: "Stagecoach" - "No Tempo das Diligências" - naquela diligência estavam a prostituta Dallas (Claire Trevor), expulsa da cidade por um bando de matronas indignadas; Doc Boone (Thomas Mitchel), o médico bêbado; Henry (Berton Churchil), o banqueiro que rouba o banco; um jogador profissional de cartas; um vendedor de uísque; o cocheiro e, com eles, a mala do ouro. E, ainda, John Waine, como Ringo Kid o pistoleiro.
No enredo da trama, onde cada personagem enfrenta os seus dramas pessoais com éticas e dignidades próprias, brotam, com naturalidade, alguns a serviço do bem e outros nem tanto. Mas todos enfrentando preconceitos que abortavam no grupo social daquela sociedade nascente dos Estados Unidos da América, hoje a maior democracia do mundo. E, em determinado momento do bang-bang, todos se uniram no enfrentamento a um inimigo comum: Jerônimo, o sanguinário cacique apache.
Aqui é no avião... da asa norte e da asa sul, e não na diligência. No avião do plano piloto do planalto também pontilham dramas e personagens que muito se assemelham ao velho oeste. Temos uma prostituta, banqueiros ladrões, muitos mescaleiros apaches, malas de dinheiro, um médico fora do papel, um vendedor de ilusões (como se fosse uísque e rinhas de galo), guerrilheiros no papel de pistoleiros, corruptos ainda não revelados e, por fim, um cacique venezuelano, sem o glamour apache, mas que lança sinais de fumaça na colina do torto. É, talvez os senhores possam me ajudar: ainda não encontrei o cocheiro, o bêbado, nem John Waine. No final, lá no filme, o bem venceu, hoje é uma democracia. Aqui ainda não apareceu o famoso THE END...Cel ERILDO
Original publicado em 2005
Republicado por solicitação de leitor do site "ACONTINÊNCIA"
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