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terça-feira, 13 de janeiro de 2009

A recaída do Iamaraty em Gaza




A recaída do Itamaraty em Gaza



A iniciativa brasileira de enviar o chanceler Celso Amorim ao Oriente Médio para tentar contribuir na busca de uma solução pacífica para o conflito palestino-israelense merece apoio pelo nobre objetivo manifesto. Mas a posição brasileira até aqui em nada indica essa busca de equilíbrio, muito pelo contrário, o que reduz nossa capacidade de obter voz de fato relevante na busca da paz. A começar pela postura brasileira no notório Conselho de Direitos Humanos da ONU, dominado por ditaduras africanas e árabes, bastião de um anti-sionismo obsessivo enquanto ignora ou apazigua ditaduras brutais ao redor do planeta, um constrangimento para a própria ONU. O Brasil votou nesta segunda-feira a favor de uma proposta condenando de forma veemente Israel pela lamentável morte de civis em sua guerra contra o grupo terrorista palestino Hamas. Os países da União Europeia, Japão e Coreia do Sul se abstiveram, e o Canadá? votou contra o projeto, sancionado por 33 votos a favor, 13 abstenções e um voto contrário. Mas, no mesmo conselho, o Brasil tomou uma posição bastante diferente em relação ao Sudão, num claro sinal de dois pesos, duas medidas, já visto também na tolerância brasileira com os abusos dos direitos humanos em Cuba e na China, entre outros. Desde 2004 os rebeldes da região de Darfur, no oeste sudanês, são massacrados por tropas de Cartum e seus aliados, a milícia árabe local (os janjaweed). A conta de mortos chega a 200 mil, repito, 200 mil, além de cerca de 2 milhões de refugiados que relatam massacres e estupros em massa. Pois o Brasil manteve uma posição de tolerância com o governo sudanês que contraria a defesa do 'desequilíbrio' feita agora pelo Itamaraty em relação a Israel. Em dezembro de 2006, por exemplo, o Brasil se absteve de uma votação no mesmo conselho de direitos humanos da ONU que pedia ações mais duras contra a liderança sudanesa, derrotada por 22 votos a 20. O que levou a Humans Right Watch a criticar Brasília: 'A recusa do Brasil em apoiar uma forte resposta da ONU às atrocidades em Darfur foi um ato de insensibilidade e indiferença', disse então o diretor da HRW para a América Latina, José Miguel Vivanco. Na época, o Itamaraty justificou seu vergonhoso ato como forma de buscar um "consenso eficaz" sobre Darfur, o que até hoje não ocorreu, com a miséria e a morte tão presentes na região quanto em 2006. Já neste último e triste capítulo da luta entre Israel e palestinos, as declarações do chanceler Amorim e daquela sombra sobre a política externa brasileira, o assessor presidencial Marco Aurélio Garcia, estão muito longe da busca do tal 'consenso eficaz'. Amorim, por exemplo, ao negar que a Chancelaria brasileira estivesse apoiando só os palestinos no conflito, ressalvou: "Hoje, nós temos uma posição muito equilibrada. Só que, quando há uma ação desequilibrada, você não pode nos exigir uma posição equilibrada'. Está lançada a nova 'doutrina do desequilíbrio"! O dinossauro Marco Aurélio, cuja lista de gafes e equívocos daria uma Wikipédia própria, foi ainda mais longe, chamando as ações de Israel de "terrorismo de Estado". E o PT de Lula e Marco Aurélio foi ainda mais longe do longe ao chamar a ação israelense contra os foguetes disparados pelo Hamas contra seu território de "uma prática típica do Exército nazista" (se eu fosse petista como a Clara Ant, rasgaria minha filiação). Na semana passada, o ministro iraniano Mohammad Abbasi esteve em Brasília, onde se reuniu com o indefectível Marco Aurélio (nova entrada para sua Wikipédia pessoal). Saiu dizendo que posições em comum entre Brasil e Irã devem impulsionar uma união entre os dois países para o cumprimento de metas em relação ao conflito em Gaza e Israel. Importante lembrar que o Irã arma e instiga o Hamas a lançar sua guerra suicida contra Israel e é presidido por Mahmoud Ahmedinejad, aquele que defende literalmente varrer Israel do mapa e busca ativamente, com pouca resistência global e nenhuma do Brasil, obter uma bomba atômica. Importante também lembrar que o Brasil já convidou Ahmedinejad, pária em várias capitais do Ocidente e aliado íntimo de líderes autoritários como Hugo Chávez e Robert Mugabe, a visitar o país neste ano. Que o Brasil busque o diálogo com a maior gama possível de lideranças para impulsionar o entendimento global parece objetivo louvável de nossa diplomacia. Mas vamos abortar logo a "doutrina do desequilíbrio" de Amorim e seu "humanismo" seletivo para que nossa política externa não se torne mera apaziguadora de ditadores belicosos em troca de contratos lucrativos ou mero eco de ideologias ultrapassadas, como o terceiro-mundismo e o esquerdismo primário e maniqueísta. O histórico do Itamaraty tem algumas manchas de arrepiar os que se preocupam agora com um equilíbrio mínimo da posição brasileira diante de Israel e dos judeus, entre elas: 1 - O voto em 1975 (ditadura Geisel) a favor da moção da Assembleia Geral da ONU afirmando que o sionismo é racismo (depois derrubado, com o arrependido voto brasileiro, em 1991). 2 - As políticas discriminatórias antijudaicas da Chancelaria brasileira durante a era Vargas muito bem retratadas pela historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro no clássico "O Anti-semitismo na Era Vargas". Que Lula e Amorim nos livrem desse triste caminho unilateral e preconceituoso e encontrem de fato formas de aproximar israelenses e palestinos da paz. Será muito bom para a região e para a nossa política externa.
Sérgio Malbergier é editor do caderno Dinheiro da Folha de S. Paulo. Foi editor do caderno Mundo (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, "A Árvore" (1986) e "Carô no Inferno" (1987). Escreve para a Folha Online às quintas.E-mail: smalberg@uol.com.br

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