domingo, 28 de junho de 2009
GOSTO NÃO SE DISCUTE
GOSTO NÃO SE DISCUTE
Ternuma Regional Brasília
Gen. Bda Valmir Fonseca Azevedo Pereira
“Mais vale um gosto do que um ou dois vinténs”, diz o dito popular.
Por isso, não causa espanto, mesmo que torçamos o nariz para alguns casos, quando tomamos conhecimento dos “gostos”, por vezes mal cheirosos dos políticos nativos.
Na sua maioria, eles gostam de dinheiro, de votos e de poder, não necessariamente nesta ordem.
Eles gostam, também, de mordomias, de afagos, de subserviência, de mídia (quando estão vociferando em alguma CPI), de conchavos, de distribuir benesses e favores (parentes e apadrinhados), de longas férias e de folgas (voltas às suas bases, para contatar com o povo, com os familiares que lá ficaram, com as amantes, com os compadres, com os cabos eleitorais, etc).
Eles gostam, ao extremo, da mídia e dos meios de comunicação em geral, com preferência para repetidoras de TV e, em particular, para as concessões de rádio, por isso se empenham com “garra” e movem montanhas para obter todos ou qualquer daqueles meios para, na sua região, divulgar em alto e bom som os seus feitos (e desmoralizar oponentes). Possuir repetidoras de TV e rádios é a glória para qualquer político.
Gostam de festas caipiras (em particular os nordestinos que primam pela religiosidade), de São João, Santo Antonio e tantos quantos forem os santos festejados, e que lhes permitam retornar às suas saudosas bases. Nada melhor do que cair nos braços do povo, entre o som de uma “quadrilha” e outra, para sentir de perto as suas necessidades e os seus anseios.
Gostam de sua terra natal, onde em geral está localizado o ninho do guerreiro, suntuoso reduto, próprio para relaxar, após o desgastante trabalho legislativo. Admitem afastar - se da terrinha, nas terças, quartas e quem sabe nas quintas, mas pelo amor de Cristo, não privem os nossos laboriosos e sacrificados representantes das sextas, sábados, domingos e segundas feiras do aconchego de suas famílias e dos seus “fanáticos” correligionários.
Gostam de legislar em causa própria ou com o dinheiro da Nação (nosso), por isso, sem delongas aprovam o transporte gratuito para todos os estudantes, e tantas quantas forem as “causas” que lhes tragam alguma promoção junto à opinião pública. O desprendimento com as coisas da Nação é uma de suas marcas.
Gostam, também, de notas frias para justificar os gastos da verba indenizatória, de passagens aéreas para usá – las em proveito próprio e, ou com pessoas de seu vasto círculo de amizades e interesses.
Gostam dos celulares privativos da função, pois têm crédito ilimitado e poderão repassar o dito, eventualmente, é preciso destacar, para parentes (que normalmente, não possuem este raríssimo meio de comunicação) em viagens no País ou no exterior.
Amantíssimos e, visceralmente ligados à família, usam de todos os artifícios para auxiliar um parente ou amigo desvalido, inclusive patrocinando atos secretos (ofícios, notas, etc.), para beneficiá-los. Neste aspecto, demonstram uma rara qualidade, a humildade, pois generosos ao extremo, preferem quedar–se no anonimato (para os outros e, assim evitam os entendimentos equivocados).
Certos de que o que os olhos não vêem o coração não sente, agem às escuras, se preciso for (geralmente é).
Gostam da sogra, do sogro, do cunhado ou da cunhada, do filho ou da filha, neto ou neta incompetentes ou sem eira e nem beira que poderão ser aninhados em alguma sinecura do Estado. Isto sem contar com a velha e inesquecível mãe, orgulhosa de seu exitoso filho. A própria, se possível, será aquinhoada com algum emprego, nada que a desgaste. E o que dizer do irmão ou irmãos? Irmã ou irmãs? Que culpa tem a família se eles não se ajeitaram na vida e dependem da influência do filho de sucesso? O santo homem nunca irá desampará-los.
Gostam de restaurantes caros. Aqueles que dão “status” aos freqüentadores (quem não gosta de ser reconhecido e ouvir um sonoro “prepare a mesa do senador/deputado/ministro/de sua excelência...”).
Gostam de Maquiavel, do qual mal leram ou apenas ouviram falar, pela praticidade de seus ensinamentos na área da política, mas conhecem, profundamente, os mandamentos da sobrevivência em alto estilo e as artimanhas para derrubar um desafeto.
Gostam de legislar sem contratempos e sem óbices, por isso, preocupam - se às raias do absurdo em obter as melhores condições sociais, financeiras, legais e total blindagem para, intocáveis em todos os sentidos (copiosos planos de saúde, previdência, farta e fácil aposentadoria, etc.), estarem livres para darem o melhor de si aos seus eleitores.
Gostam de doar–se, tanto que, por ocasião dos pleitos eleitorais, doam brindes, mimos (alguns até dinheiro), para os eventuais eleitores. Cumprem uma missão social.
Gostam de trocar favores. Adoram estatais. Não duvidem, os dois são complementares.
Deliram quando trocam posições nas votações do Congresso e votam a favor de quem oferecer mais. Adoram vagas em estatais, se possível de chefia ou de 1º escalão. Contudo, modestos, podem contentar-se com uma posição secundária, mas que permita ao “seu indicado” manipular polpudas verbas.
Gostam de nomear para cargos de chefia velhos conhecidos, sinal de lealdade e do quanto valorizam uma boa amizade. É quando demonstram justo reconhecimento a quem poderá no futuro, ou já prestou no passado, um especial favor. É o agradecimento do cidadão obsequioso.
Alguns, dotados de exacerbado espírito de solidariedade, defendem seus pares com unhas e dentes, pois sabem que uma mão lava a outra, em especial, quando elas estão enlameadas de tanta sujeira.
Entre os muitos “gostos”, talvez o mais significativo seja o gostar “de paixão” do Congresso. A casa é uma fortaleza inexpugnável. Fornece abrigo, prêmios, viagens, palcos e a melhor proteção e segurança possíveis. Sob suas asas não podem ser julgados pela justiça como os demais mortais. Só com autorização deles próprios, e eles gostam destas leis e dos seus camaradas de infortúnio legislativo, que eles sabem, nunca permitirão que um dileto membro da confraria seja molestado com mesquinharias, como responder a um processo ou similar.
Quem não “gosta” de tudo isto e muito mais, que jogue a primeira pedra.
Ou fiquem como nós, justa e honradamente enojados e perplexos com tantas patifarias e total desamor com a honestidade e com a probidade.
E lamentem, deplorem, acusem e reclamem, pois estes são os homens e seus “gostos” que nos governam (degustam?).
Brasília, DF, 26 de Junho de 2009
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