BOAS NOTÍCIAS
MARIA LUCIA VICTOR BARBOSA
07/04/2008
A propaganda governamental tem se esmerado em difundir boas notícias. É comum em meio aos jornais de TV o apresentador dizer: agora, uma boa notícia do governo Lula. Segue-se algo fabuloso. Pois é, nosso paraíso começou na era PT e o povo, que não conhece história, acredita piamente.
Semana passada a boa notícia chegou pela Veja de 02/04 2008, através de matéria que mostrava o estudo Observador 2008 “feito pelo Instituto de Pesquisas Ipsos sob encomenda da financeira Cetelem, pertencente ao banco francês BNP Paribas”. Tal estudo mostra a redução da população miserável e o ingresso de considerável contingente populacional no mercado de consumo.
A revista admite também, “que outros estudos e pesquisas já haviam detectado esse avanço, que nada mais é senão a recompensa ao ciclo de reformas e ajustes econômicos feitos desde o Plano Real”. Mas a impressão que fica é que somente agora fomos presenteados com tal progresso.
Algumas dúvidas, contudo, devem ser apresentadas antes que se chegue ao estado de euforia provocado pelos dados oferecidos pelo Observador 2008:
A primeira se refere ao critério de renda familiar utilizado pelo estudo, ou seja: as classes D/E, 39% da população, ou 72,9 milhões de pessoas teriam uma renda familiar de 580 reais. Não sei se a pesquisa foi realizada também no nordeste onde a renda familiar geralmente é muito baixa entre os mais pobres.
O estouro ascensional, porém, aparece na classe C, composta por 46% da população, quer dizer, 86,2 milhões de pessoas com renda familiar de 1062 reais.
Certamente a mobilidade social deve ter se dado através das Bolsas-esmolas do governo Lula, do crédito consignado, do crédito parcelado a perder de vista (concedido pelas lojas), do crédito bancário bastante incentivado, dos reajustes acima da inflação para o salário mínimo, sobretudo para o aposentado do setor rural. Através dessas facilidades uma parcela das classes mais baixas migrou para a média baixa e passou a consumir eletrodomésticos, celulares, computadores, etc.
As classes A/B da população, 15% da população, 28 milhões de pessoas, para o estudo Observador 2008 teriam uma renda familiar de apenas 2217 reais. Dúvida: não seria essa renda familiar extremamente reduzida considerando-se as classes mais altas? E por que as classes A/B estão reunidas, apresentando uma só renda?
Há tempos se noticiou que os ricos do Brasil (classe A) tinham aumentado. Será que sua renda familiar só alcança em média 2217 reais? Isto seria um caso inédito em todo mundo de ricos-pobres.
Note-se que a renda média familiar das classes A/B, ao se aproximar bastante da renda familiar da classe C é uma boa notícia para o presidente da República, que teria transformado o Brasil numa sociedade quase igualitária, algo que muito ajuda a incrementar a idéia do terceiro mandato que segue a todo vapor.
Outra dúvida que pode surgir: se a ascensão das classes mais baixas se deveu também como é dito à oferta de empregos, por que aumentou a imigração de brasileiros em busca de vida melhor em outros países? Em contrapartida, nunca tantos compatriotas foram barrados em fronteiras ou deportados, e se eles estão de volta vai-se precisar de mais empregos.
Em 2006 o Reino Unido mandou de volta 11,3 mil brasileiros e a Espanha impediu a entrada de cerca de 7,7 mil brasileiros. Em 2007 os espanhóis fizeram dar meia volta 9,7 mil brasileiros. Quanto aos Estados Unidos, devolveu em 2006 apenas 2.957 brasileiros, talvez porque está havendo maior controle das autoridades mexicanas, o que dificulta a entrada em território norte-americano pela fronteira do México. (dados da Folha de S. Paulo de 25/03/2008).
Será também prudente perguntar, até quando o governo sustentará as classes mais baixas tornando-as consumidoras, mas improdutivas. E até quando créditos de todo o tipo serão honrados, para que não corramos o risco de repetir o erro dos Estados Unidos referente aos empréstimos de alto risco para a habitação, o que originou a crise que começa a afetar todo o mundo. Finalmente, é lícito questionar se escaparemos ilesos da crise mundial, como afirma o presidente Lula entre brincadeirinhas com o presidente Bush.
Afinal, por mais que o governo negue a inflação já começa a sair de controle e outros sinais não muito auspiciosos jazem sob a capa de euforia das boas notícias. Por isso o PT tem pressa, fala em reforma política (leia-se 3º mandato), plebiscito (governo de massas, modelo Hugo Chávez).
Já a incômoda novela do dossiê dos gastos com cartões corporativos vai ganhando múltiplas, nervosas e pouco convincentes versões da ministra Dilma Rousseff. Ela quer porque quer achar culpados pelo que fez e o senador Álvaro Dias (PSDB) chegou a ser responsabilizado pela chantagem.
Diante da pantomima da ministra só me resta contar que sei, de fonte limpa, quem fez o dossiê para incriminar FHC e chantagear o PSDB. Foi o Etê de Varginha. Não é uma boa notícia?
Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.
mlucia@sercomtel.com.br
MARIA LUCIA VICTOR BARBOSA
07/04/2008
A propaganda governamental tem se esmerado em difundir boas notícias. É comum em meio aos jornais de TV o apresentador dizer: agora, uma boa notícia do governo Lula. Segue-se algo fabuloso. Pois é, nosso paraíso começou na era PT e o povo, que não conhece história, acredita piamente.
Semana passada a boa notícia chegou pela Veja de 02/04 2008, através de matéria que mostrava o estudo Observador 2008 “feito pelo Instituto de Pesquisas Ipsos sob encomenda da financeira Cetelem, pertencente ao banco francês BNP Paribas”. Tal estudo mostra a redução da população miserável e o ingresso de considerável contingente populacional no mercado de consumo.
A revista admite também, “que outros estudos e pesquisas já haviam detectado esse avanço, que nada mais é senão a recompensa ao ciclo de reformas e ajustes econômicos feitos desde o Plano Real”. Mas a impressão que fica é que somente agora fomos presenteados com tal progresso.
Algumas dúvidas, contudo, devem ser apresentadas antes que se chegue ao estado de euforia provocado pelos dados oferecidos pelo Observador 2008:
A primeira se refere ao critério de renda familiar utilizado pelo estudo, ou seja: as classes D/E, 39% da população, ou 72,9 milhões de pessoas teriam uma renda familiar de 580 reais. Não sei se a pesquisa foi realizada também no nordeste onde a renda familiar geralmente é muito baixa entre os mais pobres.
O estouro ascensional, porém, aparece na classe C, composta por 46% da população, quer dizer, 86,2 milhões de pessoas com renda familiar de 1062 reais.
Certamente a mobilidade social deve ter se dado através das Bolsas-esmolas do governo Lula, do crédito consignado, do crédito parcelado a perder de vista (concedido pelas lojas), do crédito bancário bastante incentivado, dos reajustes acima da inflação para o salário mínimo, sobretudo para o aposentado do setor rural. Através dessas facilidades uma parcela das classes mais baixas migrou para a média baixa e passou a consumir eletrodomésticos, celulares, computadores, etc.
As classes A/B da população, 15% da população, 28 milhões de pessoas, para o estudo Observador 2008 teriam uma renda familiar de apenas 2217 reais. Dúvida: não seria essa renda familiar extremamente reduzida considerando-se as classes mais altas? E por que as classes A/B estão reunidas, apresentando uma só renda?
Há tempos se noticiou que os ricos do Brasil (classe A) tinham aumentado. Será que sua renda familiar só alcança em média 2217 reais? Isto seria um caso inédito em todo mundo de ricos-pobres.
Note-se que a renda média familiar das classes A/B, ao se aproximar bastante da renda familiar da classe C é uma boa notícia para o presidente da República, que teria transformado o Brasil numa sociedade quase igualitária, algo que muito ajuda a incrementar a idéia do terceiro mandato que segue a todo vapor.
Outra dúvida que pode surgir: se a ascensão das classes mais baixas se deveu também como é dito à oferta de empregos, por que aumentou a imigração de brasileiros em busca de vida melhor em outros países? Em contrapartida, nunca tantos compatriotas foram barrados em fronteiras ou deportados, e se eles estão de volta vai-se precisar de mais empregos.
Em 2006 o Reino Unido mandou de volta 11,3 mil brasileiros e a Espanha impediu a entrada de cerca de 7,7 mil brasileiros. Em 2007 os espanhóis fizeram dar meia volta 9,7 mil brasileiros. Quanto aos Estados Unidos, devolveu em 2006 apenas 2.957 brasileiros, talvez porque está havendo maior controle das autoridades mexicanas, o que dificulta a entrada em território norte-americano pela fronteira do México. (dados da Folha de S. Paulo de 25/03/2008).
Será também prudente perguntar, até quando o governo sustentará as classes mais baixas tornando-as consumidoras, mas improdutivas. E até quando créditos de todo o tipo serão honrados, para que não corramos o risco de repetir o erro dos Estados Unidos referente aos empréstimos de alto risco para a habitação, o que originou a crise que começa a afetar todo o mundo. Finalmente, é lícito questionar se escaparemos ilesos da crise mundial, como afirma o presidente Lula entre brincadeirinhas com o presidente Bush.
Afinal, por mais que o governo negue a inflação já começa a sair de controle e outros sinais não muito auspiciosos jazem sob a capa de euforia das boas notícias. Por isso o PT tem pressa, fala em reforma política (leia-se 3º mandato), plebiscito (governo de massas, modelo Hugo Chávez).
Já a incômoda novela do dossiê dos gastos com cartões corporativos vai ganhando múltiplas, nervosas e pouco convincentes versões da ministra Dilma Rousseff. Ela quer porque quer achar culpados pelo que fez e o senador Álvaro Dias (PSDB) chegou a ser responsabilizado pela chantagem.
Diante da pantomima da ministra só me resta contar que sei, de fonte limpa, quem fez o dossiê para incriminar FHC e chantagear o PSDB. Foi o Etê de Varginha. Não é uma boa notícia?
Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.
mlucia@sercomtel.com.br
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