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quarta-feira, 16 de abril de 2008

SOS AMAZÔNIA



S.O.S. AMAZÔNIA - General Heleno




Por Daniel Santini . Descrevendo as difíceis condições de seus homens e cobrando equipamentos novos, o general AugustoHeleno Ribeiro, ex-chefe das tropas das Organização das Nações Unidas noHaiti, e atual comandante do Exército na Amazônia, defende que a região precisa de mais atenção do resto do País e diz que o risco de internacionalização da floresta deve ser levado a sério. Ele cobrainvestimentos e revela que seus homens ainda usam fuzis de 1964.




1 - Qual a situação do Exército na Amazônia? Temos um efetivo aproximado de 25 mil militares e basicamente duasestratégias: a presença, com 28 organizações militares, e a dissuasão,baseada na nossa capacidade de combate e intervenção. Temos o melhorcombatente de selva do mundo.


Nossos soldados e cabos são locais etotalmente adaptados. A selva só é aliada de quem a conhece bem. Para quemnão é íntimo pode haver surpresas desagradáveis.

2 - O Exército tem controle da fronteira? São 11,5 mil quilômetros, quase cinco vezes a fronteira do México com osEstados Unidos e com características de selva em grande parte dela. ThomasShannon (secretário-assistente de Estado norte-americano) admitiu que nemmesmo eles conseguem controlar totalmente a fronteira. Isso com todatecnologia e meios que têm.


Para nós é muito difícil, mas hoje temos umsistema de vigilância bastante efetivo e nossas organizações estão nascalhas dos principais rios penetrantes. Do ponto de vista militar, éeficiente. Do ponto de vista de controle de tráfico e entrada de armas temosque melhorar muito. Mas aí não é só com o Exército. A presença da PolíciaFederal, do Ibama, da Receita Federal e do Incra precisa aumentar.




3 - É necessário aumentar o efetivo? Todo mundo sempre quer mais homens, mas hoje essa não é a prioridade. Nãoadianta aumentar o efetivo e agravar os problemas. Na selva, isso significa servidão logística,custa caro. Aspiramos equipamento modernizado e meios de transporte comagilidade e flexibilidade compatível com a Amazônia. O que queremos, o maisrápido possível, é que as promessas de reaparelhamento sejam cumpridas.




4 - Como está o equipamento hoje? Temos alguns pontos que merecem consideração. Nosso fuzil é de 1964. Temosdeficiências de energia e sérios problemas de transporte. Há pelotões quenão têm luz e outros que não têm água potável.




5 - Como o comando brasileiro avaliou a crise diplomática entre Colômbia eEquador? Ao avaliar o problema chegamos à conclusão que o incidente tinha sido longeda fronteira, envolvia dois países amigos e que não haveria reflexos noterritório nacional. Diante da postura do governo brasileiro, que, de acordocom nossas tradições históricas, entraria como poder moderador, comdiplomatas competentes nesse tipo de crise, preferimos não movimentartropas, não criar nenhum estado de alerta para não colocar lenha nafogueira. Mas é um sinal amarelo. Seria imprudente achar que o Brasil, com aestatura estratégica que possui, não vá precisar respaldar decisões einteresses com um poder militar compatível com sua expansão no cenáriomilitar.




6 - Existe o risco de haver bases das Forças Armadas Revolucionárias daColômbia (Farc) no Brasil e do País sofrer invasão semelhante a queaconteceu no Equador? Não. Temos controle da nossa faixa de fronteira. Não se instala uma base deuma hora para outra. Isso seria percebido e, qualquer detecção, as minhastropas iriam neutralizar.




7 - O general Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, ex-comandante militar daAmazônia, sempre alertou para o risco de internacionalização da região. Ainda há esseperigo? Sim e acho que isso tem que ser levado a sério. Há hoje uma teoriaintervencionista que justifica certas ações pelo mundo. É preciso atenção.Ainda somos bastante precários em termos de conhecimento de potencial naAmazônia. Sem dúvida é uma área cobiçada e precisa de presença para que hajao desenvolvimento sustentável. A sociedade precisa escolher entre odesenvolvimento sustentável ou um crescimento aleatório em que o ilícito écomum e admitido.




8 - Como está a questão do índio? É o maior problema da Amazônia. Não há uma unidade de pensamento. Asopiniões e doutrinas em relação ao trato são as mais diversas possíveis. Éalgo que também precisa ser tratado com muita urgência.




9 - As organizações não-governamentais (ONGs) ajudam ou atrapalham? Muitas fazem um trabalho muito meritório e importante, mas há também váriasque são organizações de fachada, de gente que não tem nenhum compromisso como Brasil. É preocupante o que existe por trás de muitas delas. Elas sãoorganizações que substituem o Estado. Diante do potencial da Amazônia, causaestranheza o número de ONGs na região. Nós não temos nenhuma relação diretacom elas, mas é lógico que, se a atuação passar a interferir com problemasde segurança nacional, isso começa a nos preocupar. Se alguma ONG começa aquestionar a presença das Forças Armadas e pregar a exclusão de algunsterritórios do País, é problema nosso.




10 - Sua experiência comandando as tropas da ONU no Haiti ajuda na Amazônia?Foi uma experiência pessoal e profissional fantástica, mas as condicionantessão bem diferentes. A Amazônia é uma enorme extensão de terra com umpotencial incalculável em que há problemas sérissimos. E a solução dependeda vontade do povo. É apaixonante porque a gente respira Brasil dia e noite.Tenho a esperança de ver a Amazônia desenvolvida de forma sustentável

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