domingo, 6 de setembro de 2009
A DIFÍCIL VIDA NA CASERNA
A DIFÍCIL VIDA NA CASERNA
Ternuma Regional Brasília
Gen. Refo Valmir Fonseca Azevedo Pereira
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A finalidade do Serviço Militar Obrigatório, fruto do sonho do grande Olavo Bilac – seu Patrono, repousa na preparação anual de contingentes de novos militares. Esta prática permite que um efetivo ponderável, após seu licenciamento, permaneça, na vida civil, durante alguns anos, em condições de atender com presteza, a qualquer chamamento da Pátria. É a formação e a manutenção de uma reserva, sempre renovada
Apesar de Obrigatório, o Serviço, há algum tempo é preenchido por voluntários, o que torna menos dolorosa a missão de recrutamento. O voluntariado, considerado salutar pelos bem - intencionados, tem aspectos negativos, pois, os menos preparados são os que escolhem servir às Forças Armadas. Evidentemente, um dos óbices é o nível escolar do recrutado, em geral baixo, o que traz prejuízos para o aprendizado, mormente, considerando–se o grau de sofisticação dos novos armamentos e equipamentos.
Aqueles jovens se predispõem a viver cerca de um ano, em quartéis, tendo alimentação, farda, exercícios físicos, alojamento, e onde privarão do convívio de outros jovens. Embora, o salário não seja convidativo, outras expectativas soam como um motivo razoável, inclusive o orgulho de trajar uma farda.
Atraem aqueles jovens, ainda, a possibilidade de seguirem na carreira, de conviver com determinado grau de risco, de vivenciar dentro e, segundo uma comunidade unida por densos laços, fato que envolve uma empatia entre seus membros, fator de união sustentada no apoio físico e psicológico recíprocos. É a oportunidade de o jovem incluir sua individualidade dentro de um grupo, o que lhe permitirá estabelecer comparações, agregar conhecimentos, vivências e amizades.
As Instituições Militares, por sua vez, empenham-se na preparação destes jovens, incutindo–lhes, além dos rudimentos para a execução das missões militares, através de treinamentos e exercícios que os aproximem da realidade do combate, os preceitos básicos de cidadania, de amor à Pátria, de camaradagem e de respeito, enfim, da criação e da preservação de valores e virtudes, que podemos, equivocadamente, chamar de militares, mas que de fato, deveriam ser o apanágio de todos os cidadãos.
Na verdade, as Instituições Militares são uma escola de cidadania, e para aqueles jovens, elas significam um segundo lar, uma experiência enriquecedora e ímpar na sua existência. Os jovens, após esta invulgar experiência agregam na sua formação e, por conseguinte no seu caráter, atributos, qualificações e elevados padrões que os acompanharão vida afora. É comum dizermos que ao adolescente que ingressa na caserna, entregamos à sociedade, um cidadão.
Assim, quando vemos que os quartéis, sob uma penúria inconcebível, não suportam nem alimentar seus soldados, entendemos que os prejuízos vão muito além de uma porca economia. Inicialmente, devemos considerar, que a dispensa do expediente, motivada pela falta de alimentação, impede a realização mínima das instruções e das atividades pelas quais os jovens foram incorporados. Além disso, considerando-se que no corrente ano, o efetivo incorporado sofreu um corte de 40%, e que as atividades relativas às atividades de segurança das dependências, cada vez mais impositivas no atual contexto de perversa criminalidade, empenham substanciais efetivos, o que dificulta e mesmo impede o cumprimento dos planos de instrução e a realização dos treinamentos e exercícios militares, concluímos que a incorporação, não atinge o seu objetivo maior, ou seja, estamos “brincando de soldado”.
Hoje, num País carente de valores e princípios morais, acreditamos que o maior prejuízo seja para a sociedade, que a cada ano vê diminuir o efetivo de jovens, com a oportunidade de conviver e apreender muito mais do que o emprego de armas, mas vivenciarem e respirarem o mérito da responsabilidade, a grandeza do cumprimento de uma missão, e de cultuarem a Disciplina e a Hierarquia, compreensões que lhes serão fundamentais no contexto de uma sociedade ordeira, trabalhadora e digna.
Finalmente, cumpre lembrar que a refeição em conjunto, como é o caso do rancho nos quartéis, é uma ocasião muito particular para a socialização do grupo, aspecto importante na formação do espírito de corpo, qualidade desejável para indivíduos que partilham os mesmos ideais, e que se comprometem a agir em uníssono para o cumprimento de missões. Portanto, ao reduzir o tempo do serviço militar, para menos de um ano, fato corriqueiro nos últimos anos, e diminuir o efetivo a incorporar, como é o caso deste ano, o desgoverno presta mais um desserviço à Nação.
Acreditamos que os Comandos das Forças Singulares têm plena consciência dos lamentáveis erros e empenham - se para evitá - los, mas é pena, que por vários motivos, que não cabem ser lembrados, seus argumentos soçobram sob interesses e prioridades espúrias do desgoverno.
É fácil imaginar as agruras que as Forças Armadas deverão sofrer, quando perderem suas autonomias para a compra de equipamentos e armamentos, segundo suas prioridades e, for estabelecido um novo nível hierárquico entre os Comandos das Forças e os detentores das decisões.
Logo, imaginamos que um número considerável de civis, bem ou mal – intencionados com elevados ou pífios conhecimentos, estarão dificultando, ou até obstando a obtenção de itens fundamentais para o mínimo exercício, com dignidade, das atividades profissionais.
Lembramos que hoje faltam recursos para a alimentação, acarretando dispensas do expediente, folgas indesejadas que apequenam e degradam os profissionais militares, tão ciosos de sua cidadania, de sua dignidade, de sua participação na soberania, na grandeza e no desenvolvimento da Pátria. Aos poucos, uma sombra de impotência e desânimo abate mesmo os mais fortes, reduzidos à mera situação de abonados funcionários burocratizados.
Infelizmente, vivemos sob a égide da desconstrução das Instituições Militares e da degradação e o aviltamento de seus profissionais.
Ser soldado é muito mais do que desfilar garbosamente no Sete de Setembro, e do jeito que as coisas vão, em breve, vai faltar o “garbo”.
Brasília, DF, 05 de setembro de 2009.
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