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sexta-feira, 15 de maio de 2009

O CONTO DA CADERNETA


O conto da caderneta
15/05/09

Jayme Copstein

Guido Mantega, ministro da Fazenda, e Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, eram dois retratos contrastantes ontem, em entrevista coletiva para anunciar que o poupador da caderneta – o "porquinho" da classe média – começa a ser "tungado" através do Leão a partir do ano que vem. Mantega personificava a velha parlapatice inaugurada por Delfim Netto à época do regime militar, quando, dependendo do enfoque, se provava que elefante até formiga era. Meirelles, constrangido, parecia um seminarista apanhado em flagrante por estar assoviando o "Somos da Pátria amada" na hora da novena.

O que os dois disseram, ou melhor dito, não disseram, é que, se não impedirem a migração dos investidores – aí passam a ser especuladores – para a caderneta, vai faltar dinheiro ao governo para financiar a gastança com a cumpanheirada, atracada na tetas do Tesouro, todos, também, salvando a Pátria tão amada como jamais aconteceu na história deste país.

Este colunista não entende um níquel de economia e de finanças, mas por sua própria credulidade acaba por entender ainda menos o que Mantega e Meirelles quiseram dizer. Se a dinheirama que impede a inflação de estourar a níveis sarneysistas vier para a construção civil, destinação específica da caderneta de poupança, também vai movimentar a economia. Esta foi mensagem recente do próprio Governo e se é uma besteira de fazer rir, como o ministro Mantega carimbava, com sorrisos desdenhosos, algumas perguntas dos repórteres na coletiva de ontem, então a mentira e a demagogia é do próprio governo.

Mantega pousou de magnânimo e amigo dos pobres – o limite de isenção da caderneta de poupança é de 50 mil reais. Parece estar convencido que gente de bolsa família, salário mínimo e até três salários, consegue poupar 50 mil reais – "90 por cento das cadernetas de poupança", argumentou. É só fazer as contas, coisa simples, com as quatro singelas operações – para mostrar que a poupança é refúgio da classe média, esta classe média que tem sido penalizada pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, como demonstram as pesquisas de opinião, as mesmas que a ele conferem alto índice de popularidade.

Não fosse a carboteirice de esconder que a história é outra– a necessidade de baratear o dinheiro que o governo paga para tapar os rombos cavados por sua gastança –até se poderia falar em ingenuidade. O ministro concede isenção a depositantes de um milhão de reais que não tenham outra renda a não ser os juros da poupança. Como alguém, fora do falecido João Alves que acertava todas na loteria, consegue um milhão de reais sem ter renda – os juros da poupança acontecem depois – é um enigma. Com toda a certeza, o ministro tinha em mente a exceção daquele gênio que inventou uns joguinhos eletrônicos e os vendeu à Brasil Telecom. Todos somos de Deus, mas ele, por originalidade, era também filho do presidente.

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