quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Não é missão do Exército
w: Não é missão do Exército combater o narcotráfico
E é muito bom que algumas pessoas em posição de destaque digam o que
precisa ser dito!
Não é missão do Exército combater o narcotráfico
Para o general, falta vontade política para tirar as Forças Armadas da
obsolescência
Leandro Prazeres
Da equipe de A CRÍTICA
Ninguém fala mais alto que o general Luis Cláudio Mattos, 62, na sede
do Comando Militar da Amazônia (CMA). Responsável por 26,3 mil homens
espalhados pelo maior comando regional da América Latina, Mattos não
impressiona pelo tom de sua voz, mas pelas palavras.
Em entrevista concedida à A CRÍTICA, ele se desarma. Diz que o combate
ao narcotráfico não é "missão" do Exército, que falta vontade política
do governo para reaparelhar as Forças Armadas e que, se pudesse,
conduziria a política externa brasileira com mais firmeza.
Sobre as bases colombianas utilizadas pelos EUA e o aumento do poder
bélico venezuelano Mattos se mostra tranquilo, mas revela que os
serviços de inteligência brasileiros estão atentos a esses movimentos.
A CRÍTICA: O que muda para o Brasil a partir da utilização de bases
colombianas pelos Estados Unidos?
General Luis Cláudio Matto: Não muda absolutamente nada. Isso é um
problema interno de soberania da Colômbia. Não fizemos nenhuma
modificação da nossa estratégia em razão desse fato específico.
A CRÍTICA: Essa declaração contrasta com as reclamações do Itamaraty
sobre o assunto. Esse desconforto diplomático ainda não chegou aos
militares?
General Luis Cláudio Matto: Na minha avaliação não há motivo para
preocupação, mas eu entendo que a preocupação do Itamaraty é uma coisa
perfeitamente aceitável. O que é bom frisar é que esse problema das
bases não caracteriza nenhuma ameaça militar para nós. Se nossa
inteligência tivesse dado conta disso, aí sim, adotaríamos uma outra
atitude.
A CRÍTICA: Os serviços de Inteligência estão apurando os reais
interesses por trás desse acordo?
General Luis Cláudio Matto: Não só a inteligência militar, mas a
inteligência brasileira. Por isso que eu digo que não tenho
preocupação. Esse trabalho nos abastece.
A CRÍTICA: Até que ponto o aumento do poderio bélico colombiano e
venezuelano têm mudado a estratégia de Defesa brasileira na Amazônia?
General Luis Cláudio Matto: Nós vivemos numa conjuntura em que temos
um relacionamento excelente com todos os nossos vizinhos.
Evidentemente que nós não acompanhamos esse aumento do poder militar
da Venezuela, da Colômbia e do Chile. Mas isso é problema interno de
cada País. Se os países julgam que, em vez de resolver alguns
problemas, é melhor aumentar o poder militar. é decisão soberana do
País. Nós militares (brasileiros), particularmente, temos muitas
carências que se fossem solucionadas talvez, os vizinhos encarassem
como aumento do nosso poderio bélico, mas são carências que temos há
muitos anos.
A CRÍTICA: A nova Estratégia Nacional de Defesa (END) prevê o
deslocamento de unidade para a Amazônia. Isso não é reflexo desse
aumento de poder militar dos nossos vizinhos?
General Luis Cláudio Matto: Não. Reflete uma preocupação que se tem há
muito tempo de nós aumentarmos o nosso poder militar na Amazônia pra
garantir a soberania. Se isso fosse motivado pelo aumento do poder do
vizinho, isso teria que ocorrer com muito mais rapidez. Qual é o
grande ganho da END para as forças armadas? É a colocação da Defesa
Nacional na agenda. Antes, só se via as forças armadas como
autoritárias e repressoras.
A CRÍTICA: Venezuela e Colômbia saíram da condição de países amigos
para a condição de pontos de instabilidade na América do Sul?
General Luis Cláudio Matto: Eu acho que não. As Farcs, realmente, são
um desconforto muito grande. Imagina você ter um movimento contra o
governo se arrastando durante tanto tempo. Mas isso é um problema
interno deles que podem nos afetar se as guerrilhas entrarem no nosso
território. Por isso estamos vigilantes. A mesma coisa na Venezuela.
As decisões de lá podem agradar ou desagradar. Será que está bom pra
eles? O dinheiro do petróleo poderia ser colocado para o país crescer,
prosperar, mas se o presidente (Hugo) Chávez resolveu aumentar o seu
poder militar, é decisão soberana e são os venezuelanos que tem que
avaliar.
A CRÍTICA: Quais as principais preocupações militares na Amazônia?
Nossos vizinhos, o narcotráfico.
General Luis Cláudio Matto: Tudo isso nos incomoda. Mas o que nos
incomoda mesmo é a vigilância da nossa fronteira. São 11 mil km. Nós
temos preocupação com isso, estamos vigilantes na nossa fronteira.
Temos dispositivos colocados na nossa fronteira e não tenho a menor
dúvida de que farão face a qualquer tipo de ameaça; a nossa estratégia
é preparada para isso. Temos forças presentes e forças que podem ser
deslocadas rapidamente em caso de invasão. É importante dizer que uma
invasão não acontece do dia pra noite.
Falta de aperfeiçoamento tecnológico nas Forças Armadas
A CRÍTICA: Há previsão de descontingenciamento dos recursos do projeto
Calha Norte?
General Luis Cláudio Matto: Há pedidos e solicitações, mas não sei
dizer se há previsão. Nós somos, modéstia a parte, bons planejadores.
Para nós, o principal problema não é a quantidade de recursos, mas a
regularidade. O que acontece hoje é que se faz um planejamento e a lei
orçamentária contempla o Exército com recursos. Aí começa o ano e
aquilo tudo fica contingenciado. Não adianta ficar conversando ou
discutindo. Temos que tentar obter aquele recurso. O Chile tem a lei
do cobre que destina um porcentual de tributos às Forças Armadas.
A CRÍTICA: O senhor acredita que isso poderia ser aplicado no Brasil
com o Pré-Sal, por exemplo?
General Luis Cláudio Matto: Com certeza. É capaz de ter alguma coisa
do Pré-Sal voltada para a Marinha. Poderíamos ter um pra cada Força
Armada. Nós sabemos que é uma coisa que não aparece. Soberania não
aparece. Defesa é algo que não aparece. Isso já foi pensado e visto.
Vira Projeto de Lei. Mas na hora que bate no Congresso você imagina a
discussão.
A CRÍTICA: Então falta vontade política para destinar mais recursos
para as Forças Armadas?
General Luis Cláudio Matto: Poderia dizer que sim. Agora, tanto o
Executivo quanto o Legislativo, eles pensam na alocação dos recursos
de acordo com a sua vontade. Realmente, se houvesse uma vontade
política de aporte de recursos, com toda certeza, eles apareceriam.
A CRÍTICA: Seu antecessor, General Heleno, disse que as Forças Armadas
do Brasil estão obsoletas. O senhor concorda com ele? O que seria
prioridade no reequipamento das Forças?
General Luis Cláudio Matto: Concordo totalmente com o Heleno. Por isso
é que está acontecendo esse planejamento todo. Esse pensamento é para
tirar as forças armadas da obsolescência. Temos planos pra cada área.
Por exemplo, nós temos carência de blindados. Existe uma carência de
artilharia antiaérea e são perfeitamente aplicáveis na Amazônia.
Comunicações é outro exemplo. Nós conseguimos nos comunicar com todas
as nossas tropas, mas existe uma necessidade muito grande de um
aperfeiçoamento tecnológico nessa área.
A CRÍTICA: Como executar uma Estratégia Nacional de Defesa tão ousada
com um orçamento tão minguado? O senhor teme que isso fique no papel?
General Luis Cláudio Matto: Esse é o grande problema. Vai depender de
vontade política. Nós sabemos que nós não vamos poder colocar mais 28
pelotões de fronteira nesses 11 mil km da noite pro dia, mas nós já
tínhamos alguns desses pelotões planejados, então se não tivermos
dinheiro para os 28, vamos atender aqueles que já havíamos pensado.
A CRÍTICA: Fontes dos bastidores da Polícia Federal se queixam que,
apesar de ter mais gente e mais equipamento, o Exército não cumpre seu
papel de polícia na faixa de fronteira no combate ao narcotráfico.
General Luis Cláudio Matto: Se alguém falou isso é porque não conhece
a nossa missão constitucional. Não é missão do exército o combate ao
narcotráfico. Não é missão do Exército fazer missão humanitária,
ajudar na seca e nem nas cheias, mas quando tem uma tragédia, veja lá
se não tem um militar ajudando. O nosso dever é a defesa da Pátria.
Foi criada uma lei nos dando poder de polícia para nos dar segurança
quando, na fronteira, encontrássemos alguma ação suspeita, mas ninguém
sai do quartel para combater o narcotráfico. Nem na fronteira. Não
saímos do quartel pra fazer isso.
A CRÍTICA: Mas num cenário de relativa paz com nossos países vizinhos,
o narcotráfico não é considerado uma questão de segurança nacional?
General Luis Cláudio Matto: Não vejo como uma ameaça à nossa
soberania. É um mal que atinge o nosso País todo, mas não é segurança
nacional, é segurança pública. Quando o narcotráfico atingir a nossa
soberania, aí sim. Quando estiver incorporado a uma guerrilha que
avança sobre o nosso território, aí sim. O narcotráfico não é um
problema específico das forças armadas. Ele tem que ser combatido, mas
temos que ter gente pra fazer isso. Mas não é por isso que vai pegar o
Exército pra cumprir uma missão que não é nossa.
A CRÍTICA: Como o senhor avalia a política externa do governo brasileiro?
General Luis Cláudio Matto: Eu não posso te dar minha opinião como
militar. Posso apenas dizer o que eu acho. Eu acho que a gente poderia
ser menos flexível porque o Brasil é uma potência continental. Nós
poderíamos, em determinados momentos, mostrar a nossa cara. Somos
potência.
A CRÍTICA: O senhor acha que o Brasil poderia ter sido "menos
flexível" na invasão de instalações da Petrobras pelo exército
boliviano, por exemplo?
General Luis Cláudio Matto: Eu como brasileiro acho que poderíamos ter
sido mais firmes. Eu não posso concordar ou discordar da política
externa brasileira. Posso dar minha opinião e acho que poderíamos ter
sido mais firmes, mostrado a cara da grandeza do Brasil. Muitos não
têm noção da nossa grandeza. E não é grandeza militar, mas do País
como um todo. Talvez, se o Brasil usasse a sua cara e o seu poder como
grande País.enfim.eu conduziria diferente, mas isso é problema do
governo.
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2 comentários:
Veja bem, esse blá, blá, blá não pára. Fala-se muito em obsolescência, sucateamento das FF AA, missão constitucional, necessidade de aumento do efetivo, reaparelhamento, e onde é que nós vamos parar com esses gastos? A Estratégia Nacional de Defesa dá grande ênfase à questão da interoperabilidade e missões conjuntas mas até agora ninguém falou em realmente colocar isto em prática. Senão vejamos, a Força Aérea Brasileira possui um razoável contingente de recrutas cuja missão principal é a guarda das suas instalações. Este contingente não tem a mínima qualificação requerida para entrar num combate. É, portanto, um gasto muito alto manter recrutas apenas para aquele fim. Todo esse efetivo deveria ser substituído por militares do Exército que são mais bem preparados. Explico: Uma OM do EB em Brasília, o 32º GAC por exemplo, poderia ocupar as instalações do BINFAE na Base Aérea de Brasília. Com isto desocuparíamos instalações que seriam destinadas a outros fins, tão escassos nesses momentos de mudanças (O EB está desocupando suas instalações na Esplanada para dar lugar ao Ministério da Defesa).Isto possibilitaria:
1. Redução do efetivo de recrutas na FAB;
2. Aumento do efetivo de recrutas no EB (sem reflexo no orçamento tendo em vista a proposta anterior);
3. Possibilidade de criação de novas OM operacionais no EB (também sem reflexo no orçamento);
Como conseqüência disto teríamos:
1. Real e permanente interoperabilidade;
2. Maior efetividade nas questões de segurança da Base;
3. Aumento da mobilidade da OM do EB por estar sediada numa Base Aérea (Tropa Aerotransportada);
4. Melhoria do desempenho das missões da Força Aérea que se preocuparia apenas com as questões relacionadas à aviação
Esta proposta não afeta nenhum dos aspectos ligados ao cumprimento das missões consignadas às OM envolvidas nesta reestruturação.
Desta forma, este exemplo poderia ser aplicado a outras OM, tanto do EB como da FAB e da MB extensivo aos Fuzileiros Navais.
Quem pode me responder?
Coronel Maciel
As Forças Armadas dormem tranqüilas em seus seguros quartéis, indiferentes a tudo o que está acontecendo. Afinal, o que vocês fazem além de marchar, correr pelas ruas gritando frases heróicas, comer, dormir, estudar e depois calar... Passam o ano inteiro se preparando para o desfile de 7 de setembro? Mais nada? O que vocês fazem dentro dessas Bases Aéreas, dentro desses navios, desses aviões supersônicos; dentro desses velhos tanques de guerra? Por que vocês só combatem a criminalidade que nos cerca quando acontecem os grandes eventos, na chegada de altas autoridades; por que não usam todas as armas, munições, pessoal, inteligência, logística, já que nós, os civis desprotegidos, pagamos caro, e muito caro por tudo isto? Por que vocês não analisam com carinho essa hipótese de “guerra”? Estamos acuados, com medo, presos em grades dentro de nossas casas! Não queremos saber se é constitucional ou não! É urgente uma posição de choque, de guerra! O inimigo está aí, nas ruas, nos becos mais escuros; nos becos mais escuros do Congresso Nacional, no Palácio do Planalto. Até nas Igrejas! Estamos nas mãos de bandidos. Bandidos de colarinho branco. Bandidos sem colarinho... Ora, se até a bandidagem, a grande e a pequena bandidagem se organiza para conseguir seus intentos, por que vocês não? Por que somente nas grandes tragédias da aviação, e em outras grandes tragédias é que vocês atuam logo, com muita precisão e eficiência? Estamos na pior, muito pior do que naqueles idos de 64... Façam alguma coisa... Por favor!
É isto que estamos ouvindo pelas ruas; que andam suspirando pelas alcovas; que andam sussurrando em versos e prosa;... Que andam falando alto pelos botecos... nas idéias dos amantes... no dia a dia das meretrizes... na cabeça do Chico Buarque, hoje tão calado...
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