Notícias Militares

quinta-feira, 28 de maio de 2009

MINHA (Fictícia) AMAN


O texto é de um Coronel da Reserva do Exército.



Minha (Fictícia) Academia Militar

Nesta semana recebi, de vários amigos, e-mail comentando que já estariam avançados os entendimentos para "corrigir distorções" no sistema previdenciário dos militares.
Entre as medidas previstas estariam: a retirada da pensão das filhas, pensão para os filhos somente até os vinte e um anos, aumento do tempo de contribuição para trinta e cinco anos (homens) e trinta anos (mulheres) e não consideração, no tempo de efetivo serviço, do chamado "tempo fícitício" (que pérola !!!), que seria o tempo passado em escolas preparatórias ou academias militares.
Realmente, não houve nada mais "fictício" em minha vida dos que os"fictícios" quatro anos passados dentro dos muros da AMAN, em regime de "fictício" internato. E olhem que eu era civil antes de entrar na AMAN. Imagino como devem estar se sentindo os contemporâneos meus que passaram mais três "fictícios" anos de sacrifício na EspCEx.
Ainda me recordo das "fictícias" noites, no primeiro ano, em que era acordado às duas da manhã para assumir o "fictício" plantão das duas às quatro, que sempre me era reservado por ser muito moderno (leia-se civil, no meio de oriundos da PREP e dos CM, além dos Oficiais R/2, sargentos, cabos e soldados que conseguiram entrar na AMAN).
Não há como esquecer das "fictícias" semanas no campo, rastejando na lama, passando por baixo de tiros e lançando granadas, além do choque e da tristeza pela notícia da "fictícia" morte de companheiros e instrutores em exercícios com explosivos e munição real. Realmente, tudo muito "fictício".
E as semanas dedicadas às "Instruções Especiais", então ? Ah! que "fictícia" ralação! Querem coisa mais "fictícia" do que andar quilômetros com um "Fuzil Aparentemente Leve" e uma mochila nas costas fazendo patrulha, subir e descer montanhas no frio, queimar as palmas das mãos no rapel do montanhismo, ou andar oitenta quilômetros descalço, com fome e com frio, com uma companhia de páraquedistas te perseguindo, a cavalo, morro acima, na simulação de uma fuga e evasão? Realmente, aquele ninho de cobras que havia no buraco em que eu e alguns amigos nos atiramos para fugir da perseguição dos PQD era completamente "fictício".
E é claro que não podemos esquecer que junto com toda aquela "fictícia" ralação, serviços de escala, formaturas e revistas de uniforme ainda haviam as provas de cálculo, química, física, história, geografia, topografia, matérias militares, educação física. Tudo muito "similar" à vida de qualquer outro universitário do país. Tudo muito "fictício".
Cabe lembrar, ainda, o que, talvez fosse o pior de tudo: a "fictícia" saudade de casa ou das namoradas deixadas longe, principalmente pelos "fictícios" laranjeiras, que ficavam, por vezes, todo o ano sem ir ver a família, no norte, no nordeste, no centro-oeste ou no sul do país, simplesmente por que não havia dinheiro para a passagem, ou porque as distâncias eram tão grandes e as férias de meio de ano tão curtas, que não haveria como ir e voltar a tempo para o início do segundosemestre.
Eu que morava a duas horas e meia de Resende, lembro-me, com pena, dos amigos que, terminada a semana e as indefectíveis (e "fictícias"),palestra e revista de uniforme do sábado de manhã, não teriam outra alternativa senão encarar o "fictício" fim-de-semana na AMAN, comendo "bala juquinha" na seção de cinema acadêmico, enchendo a cara no "Bola Sete", e, por que não, fazendo xixi no retão.
Realmente, os nossos líderes talvez tenham razão: foi tudo muito "fictício". O serviço militar prestado durante quatro (ou sete anos) foi "fictício", a saudade e, muitas vezes, o sentimento de solidão de um jovem de dezoito anos, causado não só pelo afastamento de casa, como também pela imensidão daquelas instalações, foram coisa à toa, "fictícias"; as marchas diurnas e noturnas e as noites em claro no exercícios de campo ou estudando, tudo foi "fictício".
Só não é fictício o orgulho de, por lá, ter passado.

Rio de Janeiro, 26/05/09.

(Como não me passaram o nome do autor, eu assino embaixo de todas as ficções aqui apresentadas - Estas ficções são verdadeiras e nos enchem de orgulho!! - Parabéns ao autor! Tomara que seja da Turma Mar Castello Branco !!- Gen PChagas)MINHA

Um comentário:

Tony Rodrigues disse...

Deixo um "fictício" abraço ao autor e assino embaixo no que li. Embora só tenha passado pela EsPCEx, posso dizer com muita felicidade que até hoje, de tudo o que eu poderia chamar de conquistas, ter servido ao Exercito Brasileiro na nossa PREP é de longe o meu maior orgulho.