O ocaso de um ditador
Fevereiro de 2008
A natureza é por vezes cruel. Vejam o caso dos leões, por exemplo. Animais fantásticos, soberanos, sem predadores naturais além do homem, donos de uma ferocidade que, dentre os felinos, perde somente para a dos tigres. Contudo, ao contrário dos tigres e da maioria dos felinos, os leões são sociáveis e vivem em bandos de cinco a quarenta indivíduos. As fêmeas são responsáveis pela caça, enquanto os machos são responsáveis pela defesa do território e do bando. Os bandos pequenos são controlados por apenas um macho, mas os bandos maiores podem ser controlados por coalizões temporárias de machos, geralmente irmãos. Com exceção de doenças e dos problemas trazidos pelo homem, a origem de todos os outros problemas dos leões reside na vida em bando. Quando um leãozinho macho atinge a maturidade, o que ocorre por volta dos dois ou três anos de idade, o líder o expulsa do bando, de modo a evitar competição. Alguns desses leões se tornam nômades por toda a vida, passando a vagar pelas savanas, solitários, de vez em quando formando par com outro nômade, o qual geralmente é um irmão expulso do mesmo bando. Todavia, outros desses leões tentam encontrar um novo bando, expulsando ou matando o líder atual e assumindo o controle. Quando um leão mais jovem assume um bando, ele mata todos os filhotes do macho anterior, como maneira de evitar que material genético alheio se propague. Vida dura essa, a dos leões. A morte de um leão em batalha, apesar da derrota, é a morte de um guerreiro. Pouquíssimos leões, talvez mais afortunados, reinam soberanamente por anos a fio, sozinhos ou em coalizões. Esses leões conseguem defender o bando contra todas as ameaças de invasão, conseguem sobreviver a todas as tentativas de assassinato, mas, no fim, envelhecem, adoecem, perdem parte dos dentes e têm de deixar o bando por mera falta de condições físicas, antes que um macho mais jovem o mate ou o expulse. Um leão desses vive seus últimos dias em solidão, alimentando-se de pequenos roedores, pássaros, peixes, ovos e répteis, deixando suas últimas pegadas na poeira das savanas e, talvez, relembrando melancolicamente o passado de glórias.
Obviamente, o comportamento ditatorial dos leões é quase totalmente instintivo e eles não podem decidir agir de maneira diferente. Mas, se eles não têm esse poder de escolha, nós temos, ao menos em parte. É aí que reside a diferença entre homens e leões.
Autor:
Alvaro AugustoProfessor do curso de Engenharia Industrial Elétrica da UTFPR, sócio da Electra Power Geração de Energia, formado em Engenharia Elétrica pelo CEFET-PR, pós-graduado em Finanças Empresariais pela FGV e em Desenvolvimento Web pela PUC-PR.
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