Notícias Militares

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Maioridade do desrespeito


Maioridade do desrespeito

Ternuma Regional Brasília

Gen Div Murillo Neves Tavares da Silva
Em artigo de 11 de janeiro próximo passado (está no site do Ternuma), sob o título “Mais Preocupações”, manifestei-me quanto à retomada de negociações para o reajuste de vencimentos dos militares federais. Baseei-me em comunicado do Centro de Comunicação Social do Exército, assinado pelo ínclito Gen Ex Enzo e que mencionava reunião com o ministro da Defesa, ocorrida em 10 de janeiro. Eu disse que era mais um “empurrão com a barriga” do falastrão jobim. Não deu outra: a tal recomposição do orçamento não aconteceu em fevereiro, nem ninguém voltou a tocar no assunto, até porque ninguém sabe quando ocorrerá. Assim, completamos, no dia de hoje, 18 meses com os mesmos defasados vencimentos e proventos. Dezoito é número que nos remete à maioridade penal. No nosso caso, à maioridade do desrespeito com profissionais disciplinados e que têm, no serviço prestado à Pátria Brasileira, a dedicação de toda sua vida. Será que tentam fazer desacreditada a autoridade do Comandante da Força Terrestre, que é pessoa da mais alta integridade e de inquestionável capacidade alicerçada em cursos e vivência nacional e não um simples pelego petista ou peemedebista ? Por que o ministro não assume que induziu ao erro os três comandantes das forças singulares? Eles se dirigiram a seus comandados baseados no que ele disse em reunião formal, em que foi citado o mês de fevereiro textualmente, conforme comunicado à imprensa, de 12 de janeiro, assinado por José Ramos Filho, Assessor Especial de Comunicação Social do Ministério da Defesa. Por que não vem a público para novos esclarecimentos? Será que está cansado de sua vilegiatura por terras de França e Rússia, fingindo que foi comprar equipamentos, inclusive com cessão de tecnologia (doce ilusão...), cessão já desmentida por um russo?

Em face da falta de explicações ministeriais, começam a surgir os boatos. De um amigo de muitos anos, recebi notícia de que haveria um reajuste de 4% em agosto deste ano e mais 4% no ano que vem, além de umas migalhas em termos de auxílio-moradia, tempo de serviço e compensação orgânica, basicamente para quem está na ativa.

Na quarta-feira passada (dia 27), em reunião de confraternização de companheiros da ativa e da reserva, perguntei a um conhecido do Min Def a quantas andava o reajuste e ele, sem mencionar índices ou datas, disse-me que estava em cogitação um “cala-a-boca” e rapidamente se afastou.
Além disso, sucedem-se, na Internet, as transcrições dos boletins do Bolsonaro; as chamadas para questionamentos na Justiça Federal da - à época - denominada isonomia dos oficiais-generais de quatro estrelas com os ministros do STM, com endereços de escritórios que cobram a módica inscrição de R$500,00 na causa (em módicas prestações de 100...) e prometem até 81% de ganhos.

O desgaste provocado atinge muito pouco a quem, como eu, já sem responsabilidades funcionais e com filhos formados e independentes, sabe viver com parcimônia. Mas o que dizer dos que têm encargos, inclusive de comando de tropa, e pretendem dar à sua descendência condições de enfrentar os embates da vida moderna, cada vez mais competitiva e mais exigente. Além da legítima pressão familiar, sofrem com as agruras de seus comandados.

O quadro é desolador. O Correio Braziliense, de ontem, publicou, em sua página 29, o seguinte:
“ No ranking das menores médias salariais praticadas pelos órgãos públicos federais até dezembro de 2007, o Ministério das Comunicações ocupa o primeiro lugar (R$ 1.610,79). A Vice-Presidência da República vem em seguida (R$ 1.774,09), depois o Ministério da Defesa (R$ 1.836,96) e por fim o Comando do Exército (R$ 1.974,17). Ainda de acordo com a tabela publicada no Diário Oficial, as maiores remunerações médias estão na Defensoria Pública da União (R$ 10.186,34), no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) (R$ 9.799,73), na Polícia Federal (R$ 8.328,21) e no Ministério da Fazenda (R$ 8.373,96)” . Na mesma matéria está mencionado que, nos últimos cinco anos, o ganho médio da Advocacia-Geral da União teve alta de 160 %; e eles lá estão em greve, desde 17 de janeiro, entre outras razões, por melhores salários. Já na Anatel, o ganho foi de 124,6 %; e todos sabemos como funcionam as operadoras de telefonia fixa, as de celulares, as televisões a cabo, etc... Fui ver qual foi a minha variação e constatei que de fevereiro de 2002 a fevereiro de 2008 (6 anos, um a mais que Advocacia e Anatel) o meu ganho foi de 44,299 %. Como não sou como o Pernalonga jobim que diz e depois diz que não disse, guardei a folha do jornal e os meus comprovantes de pagamento. E só queria saber por que razão os cofres públicos se abrem de forma tão diferente...

Se a maioridade do desrespeito ainda não é suficiente para impulsionar o jobim nem comover o Paulo Bernardo, resta-nos esperar que não cheguemos à terceira idade das desilusões.

Brasília, 29 de fevereiro de 2008.
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