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sexta-feira, 7 de março de 2008

Memórias de um sequestro



José Ricardo--------------------------------------------------------------------------------De: José Ricardo da SilveiraEnviada em: segunda-feira, 3 de março de 2008 19:47Para: CartasOGloboAssunto: Carta ao Redator - Artigo de 2/3/08 - Memórias de um sequestro .... Senhor Redator:Com relação ao artigo de domingo 02 de março, ?Memórias de um seqüestro queabalou Brasil e o Uruguai?, a aparentemente simpática e singela estorinhado contador David Cámpora, seqüestrador e terrorista aposentado, convenientementeomite que meu sogro, Embaixador Aloysio Gomide, foi violentamente arrancadodo convívio dos seus e que, para tal, ainda ameaçaram seu filho de três anoscom uma arma na cabeça. Recebeu coronhadas, foi drogado e levado a seus cativeiros,todos eles subterrâneos, permanecendo por sete meses de pijama trancado emum cubículo com paredes forradas com jornais e infestado de baratas, semver a luz do sol.Sofreu dois fuzilamentos simulados, e era constantemente ameaçado de mortepor seus carcereiros.Sua libertação foi resultado da intensa campanha realizada por minha sogra,Dona Apparecida Gomide, uma dedicada dona de casa e mãe de família que, tirandoforças não se sabe de onde, saiu à luta por seu marido. Com a ajuda dos apresentadoresFlávio Cavalcanti e Abelardo Barbosa, o Chacrinha, e outros amigos, antigose novos, conseguiu levar seu desesperado grito por socorro ao povo brasileiro. Mulher religiosa e destemida, jamais esmoreceu na intransigente defesa deseu marido, sendo importuna e inconveniente com Ministros de Estado e comoutras autoridades do governo de então, no Brasil e no Uruguai, mesmo como Presidente Médici. Sua presença e insistência, constante e veemente, eraum problema para aqueles que queriam esquecer a situação de seu marido. Algunsconhecidos faziam o possível para evitar serem vistos com ela em face darepercussão do caso.Por sua conta fez contatos com os seqüestradores. O resgate foi pago comas generosas contribuições do povo brasileiro, inclusive dos mais humildes,e com as parcas economias de uma família de classe média com seis filhospequenos. O dinheiro foi recolhido, transportado e posto nas mãos dos terroristaspor leais amigas de D. Apparecida.Durante seus sete meses de cativeiro meu sogro, em estrita honra a seu deverde diplomata brasileiro, jamais se manifestou em contra de seu governo, apesarde constantemente instado e ameaçado por seus seqüestradores. Pude ler ascartas da época a sua mulher. Sabedor que a morte o esperava, pois seu companheirode cela Dan Mitrione fora assassinado, preocupava-se muito com a situaçãode sua família sem a sua presença.Homem profundamente religioso, jamais foi acometido pela desesperança aolongo dos sete meses de seu cativeiro subterrâneo. Seu silêncio, mesmo depoisde 37 anos, é o protesto de alguém que superou a barbaridade que lhe foiimposta e que prefere recolher-se ao seio de sua família, em vez de manifestarsua indignação quando terroristas da época são tratados como heróis por representantesdo povo que pagou por seu resgate. Por exemplo, quando a Assembléia Legislativado Rio de Janeiro homenageou, em medos dos anos 80, o terrorista-chefe dosTupamaros, Raul Sendic.É ultrajante que parte de nossa história seja esquecida, omitida ou convenientementedeturpada para adequar-se à torta ideologia em moda. Fatos são orwellianamente?ajustados? para criar uma realidade alternativa. Quando vítimas, alegadasvítimas e pseudo-vítimas da ditadura estão sendo compensadas com indenizaçõesmilionárias e generosas pensões ? com direitos até para não nascidos - comoficam os que sofreram as conseqüências do terrorismo?Por esses motivos, a bem de esclarecer as novas gerações sobre a realidadedo ocorrido, ou pelo menos para que tenham uma pontada de dúvida ao ler relatoshistóricos de terroristas, é que evidencio esses fatos.Atenciosamente,José Ricardo da SilveiraFoz do IguaçuParaná

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