Notícias Militares

segunda-feira, 3 de março de 2008

Sobre salário e salários - uma visão pessoal



Sobre salário e salários - uma visão pessoal

*Leonardo Araujo

Embora não costume falar na primeira pessoa, creio ser hora de um depoimento pessoal, pois há experiência e experiências, vivência e vivências.

Não penso que esteja "ganhando bem". Na verdade, nunca desejei isso, embora fique feliz a cada aumento de salário. Meu pai era Oficial do EB e conheci de perto a vida da caserna antes de encará-la. Sempre estive entre os primeiros dez da turma e, se quisesse apenas "ganhar bem", teria escolhido outra profissão, antes ou depois da AMAN. Se quisesse apenas isso, teria aceitado pelo menos um dos três cargos de direção que já me foram oferecidos após passar para a reserva em 2000. No entanto, preferi ser um modesto e orgulhoso PTTC no CMPA, onde ganho apenas cerca de um terço dos outros três salários oferecidos (fora os indiretos possíveis, como casa, carro e plano de saúde familiar). Com perdão ao trocadilho, não troquei e não troco os trocos a mais pela satisfação e pelo imenso orgulho que sinto a cada vitória dos meus queridos alunos ou dos meus leais companheiros e amigos - e esses são muitos... e aquelas já foram muitas!

Tirante as questões relativas ao foro íntimo, como ideal, vocação, ambição financeira (ou sua ausência), etc., é importante considerar uma questão prática: nossas escolas de formação não preparam seus cadetes e alunos para gerir judiciosamente seu salário e seus bens - e esse é um grave erro. É fundamental que qualquer cidadão saiba fazer isso desde muito cedo, pois assim estará fundamentando os alicerces que possibilitarão sua tranqüilidade futura e a de sua família. Sem essa cultura, tanto faz ganhar três ou treze mil reais, pois a tendência histórica, confirmada por qualquer analista de carreiras, será gastar tudo o que ganhar, sem se preparar para o futuro e/ou para as situações difíceis que sempre acontecem. Aprendi essa cultura com meu pai, desde pequeno, e ensinei meus filhos assim.

Economizei, estudei os meandros do mercado financeiro e apliquei o que podia nos mercados de ações e de renda fixa durante anos, conforme os ventos financeiros que sopravam. Não é difícil, só requer estudo... Isso foi feito nas horas de folga, sem utilizar um minuto sequer da vida que dediquei e dedico à profissão. O resultado é que sempre vivi dentro do meu salário, sem constituir dívidas impagáveis. Vivo de maneira simples, mas confortável, pago faculdade particular para uma filha (a outra estuda em universidade pública), tenho plano de saúde privado para a família e sempre tive carros 0 km, embora fique vários anos com cada um.

Creio, companheiros, que é uma injustiça o salário inicial da PRF (ou da PM/DF ou dos ascensoristas do Congresso, etc.) ser maior que o dos nossos muito bem preparados Aspirantes. Creio também que estamos perdendo quadros qualificados por esse motivo. No entanto, como me disse um Aspirante de 2007, "a vida não é só dinheiro". Um tio da minha ex-esposa, milionário, na maturidade foi um dos donos da Brahma e da Guararapes. No entanto, na juventude, tinha sido soldado e cabo pára-quedista. Não pode prosseguir na carreira devido a um acidente. Seu escritório era uma cobertura no 5º andar de um prédio próximo ao quartel do 3º BI. Lá de cima ficava vendo os grupamentos passarem correndo no TFM, entoando canções e brados militares. Várias vezes fez questão de nos dizer, com orgulho e lágrimas nos olhos, que trocaria o que tinha para estar no lugar do comandante daqueles militares. Seu dinheiro nunca lhe trouxe o que não poderia comprar...

Respeito e concordo com os que crêem que deveríamos ter um salário à altura do nosso preparo intelectual e, no mínimo, similar a outras carreiras públicas como as já citadas. Concordo também que as FFAA estejam sucateadas e na penúria de recursos, coisas que, aliás, são senso comum e estão na mídia diariamente. Discordo frontalmente, porém, das formas com que alguns pretendem tentar corrigir essas distorções.

Não será, certamente, com o desestímulo profissional aos nossos jovens Cadetes e Oficiais; não será, certamente, com o fomento à quebra da cadeia hierárquica, à sindicalização ou à militância política da tropa que iremos mudar de maneira positiva alguma coisa nas FFAA.

Em uma força armada não há outros caminhos exceto os da hierarquia e da disciplina. Se esse pressuposto for colocado em dúvida, seja a que título e por quais motivos forem, correremos o risco de nos transformar numa milícia sindicalizada e armada, como pretendem uns, ou numa simples guarda nacional, como querem outros.

Já vi muitas coisas erradas no Exército, mas as certas as superam em muito. Por essas e por muitas outras, vibro com a nobre profissão que abracei, apesar de nunca ter o reconhecimento financeiro que poderia ter alhures. Por isso estufo o peito de orgulho ao ver meus antigos alunos se formando na AMAN, todos disciplinados e vibrando com a profissão das armas, ansiosos para trabalhar pelo Brasil. Por isso sou feliz e realizado em minha profissão, e sempre estimularei meus alunos a segui-la.

Jovens Cadetes e Oficiais: se essa é a profissão que lhes cala fundo no coração e na alma, se é ela que os fará felizes e orgulhosos de si mesmo, aprendam, antes de bradar por salários, a gerir seus próprios recursos, por parcos que sejam, e ensinem e estimulem seus subordinados a fazê-lo, pois isso fará uma grande diferença no moral e na tranqüilidade da tropa.

Apesar das muitas cantilenas descrentes que ouvirão, tenham orgulho de si mesmos e de sua profissão! Vibrem e trabalhem para engrandecer seu Exército e sua Pátria e para defendê-los de seus inimigos - sejam estes externos ou internos, vermelhos ou azuis.

Não tenham medo de ser tachados como "poetas", "românticos" ou outras expressões pejorativas, pois vocês fazem parte da imensa maioria verde-oliva que, silente e disciplinada, faz desse povo a Nação. Vocês são o alicerce moral e o braço forte do Brasil – e isso não tem preço!

*O autor é Cel R/1 - infante e pára-quedista - e PTTC no CMPA.

3 comentários:

Anônimo disse...

Senhor redator,
o par�grafo abaixo que vossa senhoria escreveu demonstra que a �tropa� presencia dia-a-dia nos quart�is. Para os oficiais �tropa� s�o apenas �tropa�, n�o s�o militares, e s� s�o chamados de militares quando est�o � frente de seus comandantes para receber uma puni�o �voc� militar vai ser punido por infringir no art...�, fora disso somos somente �formiguinhas e mais nada. O senhor quer que oficiais ensinem a �tropa� a gerir seus sal�rios? Isso n�o � preciso senhor. Quando as principais contas chegam e v�o sendo pagas n�o sobra dinheiro para mais nada, e olha que eu tenho uma vida regada, tenho apenas uma filha que esta na faculdade, minha resid�ncia � pr�pria, meu veiculo j� esta pago
e n�o ajudo ninguem da familia. Descupe-me pelo desabafo e confesso que admiro vosso blog.
Cordiais Sauda�es
Sargento da Marinha do Brasil

�Jovens Cadetes e Oficiais: se essa � a profiss�o que lhes cala fundo no cora�o e na alma, se � ela que os far� felizes e orgulhosos de si mesmo, aprendam, antes de bradar por sal�rios, a gerir seus pr�prios recursos, por parcos que sejam, e ensinem e estimulem seus subordinados a faz�-lo, pois isso far� uma grande diferen�a no moral e na tranq�ilidade da tropa.�

Anônimo disse...

Senhor redator,
o parágrafo abaixo que vossa senhoria escreveu demonstra que a “tropa” presencia dia-a-dia nos quartéis. Para os oficiais “tropa” são apenas “tropa”, não são militares, e só são chamados de militares quando estão à frente de seus comandantes para receber uma punição “você militar vai ser punido por infringir no art...”, fora disso somos somente “formiguinhas e mais nada. O senhor quer que oficiais ensinem a “tropa” a gerir seus salários? Isso não é preciso senhor. Quando as principais contas chegam e vão sendo pagas não sobra dinheiro para mais nada, e olha que eu tenho uma vida regada, tenho apenas uma filha que esta na faculdade, minha residência é própria e meu veiculo já esta pago. Descupe-me pelo desabafo e confesso que admiro vosso blog.
Cordiais Saudações
Sargento da Marinha do Brasil

“Jovens Cadetes e Oficiais: se essa é a profissão que lhes cala fundo no coração e na alma, se é ela que os fará felizes e orgulhosos de si mesmo, aprendam, antes de bradar por salários, a gerir seus próprios recursos, por parcos que sejam, e ensinem e estimulem seus subordinados a fazê-lo, pois isso fará uma grande diferença no moral e na tranqüilidade da tropa.”

Anônimo disse...

Belas palavras.Mas,senhor,ganhamos mal e merecemos mais.Um pouco pelo menos.Espero q tenhamos aumento.Pois,como disse,em outro comentário,embora esse governo não tenha dada a real atenção q merecemos,pelo menos se está discutindo o assunto "reajuste".Coisa q no passado nunca foi feito.Saudaçõs.
Att:Luiz thaumaturgo