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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

QUEM DOMINARÁ A ECONOMIA....?

QUEM DOMINARÁ A ECONOMIA NO SÉCULO XXI?


* Manuel Cambeses Júnior

A sigla BRIC sempre reluz quando se fala de potências econômicas do século XXI. As letras que a compõem encabeçam os nomes de quatro países que, certamente, se transformarão em turbinas de desenvolvimento econômico: Brasil, Rússia, Índia e China. Desses, apenas dois, a curto prazo, desempenharão um papel predominante no cenário internacional, e a natural associação de ambos será identificada pela curiosa sigla CHINDIA. Obviamente, estamos falando do benfazejo entrelaçamento entre a China e a Índia. O porquê estes gigantes se tornarão tão importantes, em nível global, se relaciona, basicamente, com suas excepcionais condições de pólos de atração de inversão de capitais e de notáveis propulsores do desenvolvimento.

Podemos vaticinar que, tanto à Índia quanto à China se trasladarão milhares de empresas, o que representará milhões de postos de trabalho, em detrimento do natural processo de esvaziamento de mão-de-obra nos Estados Unidos, na Europa e no Japão. A China continuará atraindo, de modo impactante, o setor manufatureiro, e, de maneira análoga, a Índia fará o mesmo com o setor de serviços.

A China já desbancou os Estados Unidos como primeiro destino internacional de investimentos estrangeiros e prossegue fazendo crescer sua porcentagem no volume das exportações globais. O país é o maior produtor mundial de aço, cimento e carvão, ao mesmo tempo que mantém um domínio absoluto sobre os produtos manufaturados de baixo custo. Entretanto, tal como ocorreu com o Japão e, também, com os tigres asiáticos, o seu nicho de atividades se dá através de um processo de sofisticação tecnológica em franca ascensão. É de se destacar que, na área de manufaturados, a China vem ocupando, paulatinamente, espaços crescentes no setor que atualmente conhecemos como mundo industrializado.

A Índia, por outro lado, é o grande motor asiático da área dos serviços. Graduando, anualmente, aproximadamente meio milhão de engenheiros, e contando com uma classe média maior que o total da população da União Européia, este portentoso país pode competir vantajosamente em um setor muito específico, ou seja, a “massa cinzenta de baixo custo”. Tendo iniciado no setor de serviços no âmbito dos “call center” (centros de chamadas telefônicas para a obtenção ou o manejo de informação), a Índia foi evoluindo rapidamente para o sofisticado setor da tecnologia da informação. Até poucos anos atrás, a chamada “Nova Economia” constituía a chave do crescimento econômico norte-americano. A mesma se assentava, fundamentalmente, na tecnologia da informação e tinha seu epicentro em locais como Silicon Valley ou, a Route 128, de Boston. Hoje, a “Nova Economia” está se mudando a passos largos para a Índia. Quatrocentos mil empregos nesse setor migraram dos Estados Unidos para a Índia, em 2004, prevendo-se um incremento anual, dessa tendência, na ordem de 40%, até ao final de 2008.

A simbiótica CHINDIA se posiciona em cada uma de suas duas áreas, de serviços e de manufaturados, como o setor mais dinâmico do planeta. No momento em que ambos os países decidirem combinar suas vantagens comparativas, terá lugar uma autêntica e exponencial revolução econômica. Isto fatalmente conduziria ao que Robert Reich, professor da Universidade de Brandeis, em Massachusetts, denomina de “serviços-simbólicos-analíticos”, ou seja, a fase mais avançada dos processos produtivos, na qual se produz um verdadeiro híbrido entre manufatura e serviço.

Por muitos séculos a Ásia ocupou a preeminência econômica. Tudo aponta que, dentro de uma curiosa e fantástica recorrência histórica, certamente ocorrerá novamente o mesmo fenômeno.



* O autor é coronel-aviador; conferencista especial da Escola Superior de Guerra, membro do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil e vice-diretor do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica.

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