"SAFADO"

Zé Dirceu ouve, impassível: “Safado, safado, SA-FA-DO !”

“Seu safado, safado, SA-FA-DO”, foi o que disse num tom cada vez maior, à medida que repetia a mesma palavra, um homem loiro e jovem, que se aproximou do ex-ministro José Dirceu e pousou sua mão sobre os ombros dele, pelas costas, interrompendo o almoço que reunia na mesma mesa também a filha e a nova mulher, a quarta, Evanise. Zé Dirceu sacou seu BlackBerry e fez de conta que não era com ele. Ao sair da churrascaria, depois de distrinchar seu cupim, ainda ouviu algumas outras ofensas disparadas pelo distinto público. A revista Piauí que está nas bancas, ao narrar o episódio presenciado pela repórter Daniela Pinheiro, registrou a movimentação de uma mulher, na mesma ocasião, que disparou outra ofensa: “Cara de pau”. Ao entrar no Chrysler que o esperava, Zé Dirceu ainda ouviu outra acusação: “Entra aí no carro do PT, safado !”. Naquela mesma noite, registra a repórter, o ex-ministro viajou pela TAP para Portugal. Ao entrar na sala VIP do aeroporto, um dos passageiros que estavam no local, cutucou o companheiro de viagem que estava ao lado e avisou: “Veja que está passando aqui ao lado. É o Zé Dirceu. Vade retro, satanás”. Nem em Lisboa houve trégua. Na fila do passaporte, um homem passou a fazer um discurso sobre a moralidade: “É um absurdo deixar esse bandido viajar”. Outro gritou: “Tem ladrão na fila”. A reportagem da revista Piauí conta inúmeros outros episódios de agressões sofridas pelo ex-ministro e ex-presidente do PT. O mais notável é que a repórter não percebeu uma só reação de Zé Dirceu, que permaneceu frio e impassível diante de tudo. Um amigo seu, entrevistado pela repórter, explicou: “Se ele reagir, vai perder a razão”. No RS, um político que não reage diante de agressões morais do gênero, demonstra que não tem razão ou é covarde. Em 1963, então deputado federal pelo Rio, o ex-governador Brizola, atacado através da revista O Cruzeiro pelo jornalista Davi Nasser, atravessou o saguão do aeroporto Salgado Filho ao vê-lo na fila de embarque e acertou-o com um murro no nariz. Nasser reagiu com outro artigo irado, intitulado “O coice da mula”, mas nunca mais falou mal de Brizola.