CARTÕES CORPORATIVOS E SEGURANÇA NACIONAL
VAlte(Ref) Sergio Tasso Vásquez de Aquino
“Nunca antes, na história deste país” foi o Erário vítima de tão grande e generalizado assalto quanto nos tempos correntes, em que uma “companheirada”, que antes se declarava, agressiva, raivosa e ruidosamente, campeã da ética e da moral e defensora das boas práticas administrativas e dos bons costumes, finalmente chegou ao poder e rasgou a fantasia. Trazendo consigo uma fome atávica por mordomias, acesso rápido a bens e riquezas, não tem tido limites em sua ação predatória, nem freios à desabalada ambição. Os pobrezinhos de antanho têm ido com toda a sede ao pote de melado, ombreando-se, e até mesmo sobrepujando-os, aos exploradores tradicionais, internos e externos, que sempre nos infelicitaram e que fingiam combater...
Os escândalos envolvendo desvios comportamentais de toda a ordem, roubalheira e leviandade na aplicação dos dinheiros públicos se sucedem num tropel vertiginoso, para profunda tristeza, desalento e constrangimento da parcela consciente do povo, cada vez mais minoritária, que assiste à derrocada do País que era a esperança do mundo, sem nada ter podido fazer por ora, já que a insensibilidade parece ter tomado conta de todos os setores responsáveis pelo Estado e pela Nação, que poderiam reagir com eficácia, se o quisessem, e pôr cobro à crescente insensatez que engolfa o amado Brasil.
O mais recente episódio da corrida imoral aos recursos públicos, malvertidos como se coisa privada fossem, envolve o mau emprego dos chamados “cartões corporativos”. Desde o primeiro mandato do atual presidente, têm circulado notícias a respeito do assunto, que foi, inclusive, motivo de exposição crítica no debate entre os candidatos à última eleição presidencial, episódio eletrizante, mas infelizmente pouco ou mal explorado pela oposição, talvez receosa dos respingos no desgoverno anterior, de FHC.
Há muito tempo, circulam pela internet versões escabrosas sobre o mau emprego dos famigerados cartões, pelo governo em geral, e pela presidência da república, em particular, chegando a ser citados familiares muito próximos do atual ocupante do Palácio do Planalto. Finalmente, o assunto chegou à grande imprensa, com acusações a três ministros secundários do presente esquema de poder, que balbuciaram inaceitáveis explicações, tentando safar-se das faltas em que haviam incorrido, após serem apanhados com a boca na botija. Um deles, senhora que já detinha triste notoriedade por controversos episódios em que se envolveu e por infelizes declarações anteriores, foi rapidamente defenestrado, em tentativa canhestra de apagar o incêndio antes que se tornasse incontrolável.
As revelações, porém, originárias de banco de dados oficial, sucedem-se em tropel, atingindo, já agora, exorbitantes e injustificáveis despesas feitas, com dinheiro público, em benefício da filha do presidente, moradora em Florianópolis, e para custeio do dia-a dia da presidência, incluindo alimentação da primeira família e atavios vários para os palácios presidenciais, além das viagens diversas, ao Brasil e ao mundo, do mandatário, parece que em número de 94 até agora. Os valores monetários envolvidos são de fazer cair o queixo, lembrando os manipulados por sheiks e potentados outros, donos do petróleo no Oriente Médio. E tudo diante de um país desorganizado, cheio de carências e empobrecido, com legiões de miseráveis e famintos e em que o governo alega não dispor dos recursos mínimos para realizar o essencial!
Na tentativa de abafar o escândalo que, se bem investigado, pode revelar-se fatal, porta-vozes e figuras conspícuas da administração federal, inclusive e infelizmente um general entre eles, vêm a público, para propor a manutenção de segredo total para as despesas presidenciais, alegando “necessidade imperiosa de segurança nacional”! O curioso é que os comunistas, seguidores, sequazes, simpatizantes, lambe-botas, aliados e correligionários, esquerdistas de todos os matizes sempre a invectivaram e se lançaram contra a simples menção desta expressão, “segurança nacional”! Desde 1990, e com muita ênfase desde 1994, tentaram proscrevê-la da linguagem e do pensamento correntes, ao ponto de FHC, no seu infeliz mandato duplo, tudo haver feito para mudar a Escola Superior de Guerra e borrar do mapa sua doutrina nacionalista, cristã e democrática, cujos paradigmas orientadores sempre foram “Segurança” e “Desenvolvimento”. Ambas as palavras, a propósito, passaram, desde então, a ser evitadas no jargão oficialista e perseguidas como se palavrões fossem!
Agora, para tentar estancar o incêndio que lavra na floresta e ameaça consumir a mansão presidencial, apela-se para “segurança nacional”! O que tem segurança nacional a ver com o acobertamento de sistemática e seguida má utilização dos recursos públicos? Para não falar que a essência da democracia é o uso adequado, honesto, criterioso, parcimonioso, planejado e programado dos impostos recolhidos pelos cidadãos, em projetos que revertam em benefício de todos e que contribúam para o Bem Comum!
Os governantes sérios e dedicados das democracias verdadeiras são os primeiros a aplicar, rigorosa e legitimamente, os recursos da Nação em benefício do bem-estar do homem e do progresso da terra e das instituições nas repúblicas (algumas vezes monarquias) sobre as quais receberam a missão de exercer a administrção. E fazem questão de ter vida frugal e simples e de fazer comedido uso dos dinheiros públicos para uso pessoal, além de prestar, rotineiramente, contas de cada tostão despendido. Assim, fazem-se exemplos de todos os escalões de governo e agentes governamentais, que agem da mesma forma. O dinheiro bem aplicado rende muitas vezes mais, acelerando o progresso nacional em paz. Em nossa memória, paira o testemunho imortal de Dom Pedro II! (Se no Brasil não se roubasse o dinheiro dos impostos, já seríamos uma potência de primeira grandeza, educada, saudável, segura, desenvolvida e feliz, com certeza!)
Os governantes do Brasil dos últimos anos, ao contrário, têm agido com a triste e perversa desenvoltura de mandatários das mais retrógradas republiquetas latino-americanas e africanas, sentindo-se donos do país e acima da necessidade de quaisquer limites e de prestar quaisquer contas dos seus atos Julgam-se semideuses, perigoso caminho gerador da tirania de todos os matizes!
Diante de tanta vergonheira e agressões à ética, à moral, ao Bem Comum e ao patrimônio comum dos brasileiros, onde estão o Legislativo, o Judiciário, o Ministério Público, as Forças Armadas, as associações de classe, empresariais e de profissionais, as associações de moradores, os partidos políticos, os cidadãos, enfim, a consciência cívica da Nação?
Estaremos todos, inertes e inermes, aguardando placidamente o naufrágio da Grande Nação? E o compromisso com nossos descendentes e o futuro, e com os grandes heróis do passado, onde fica e onde está?
“ Chora, musa, e chora tanto, que o Pavilhão se lave no teu pranto!” ( Castro Alves).
Rio de Janeiro, RJ, 9 de fevereiro de 2008.
domingo, 10 de fevereiro de 2008
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