Nem esmola, nem fortuna
Produzido pelo Ternuma Regional Brasília
Eles, os que estão no poder, sabem disso, mas, no entanto, insistem em promover deslavadas gorjetas àqueles que fazem da vida profissional um sacerdócio, sem, todavia, terem optado por voto de pobreza. Os militares brasileiros têm, por formação e vocação, um forte apego ao Brasil, desprezando, na juventude em que fizeram o solene e sincero juramento à Bandeira, quaisquer outras motivações que não sejam a extrema dedicação à pátria a quem oferecem o sacrifício da própria vida.
São os militares classe diferente, sem, contudo, apartarem-se da sociedade brasileira, que lhes deposita confiança e reconhece a sua importância e os valores que os sustentam.
Valores, ética, sacerdócio e dedicação esbarram em limites impostos pela decência pessoal e pela obrigação de manter a família em condições dignas de subsistência. Lutar pela pátria ou embrenhar-se nos sertões para aplicar vacinas, no esforço de sanar incúrias dos governantes, são tarefas que os militares executam com o mesmo estoicismo, malgrado saberem que deixam em seus lares famílias desassistidas. Suas heroínas esposas não têm, ao contrário do que disse o chefe do cofre do governo, nenhuma condição de amenizar a penúria que lhe impõe o sacerdócio de seus maridos, pois que têm de cuidar de filhos e das suas modestas moradas, sem as oportunidades de emprego do aparelhamento do Estado e, muito menos, sem a excrescência dos cartões de crédito corporativos que fazem o butim de governantes e apanigüados.
Falar em reajuste de vencimentos sempre causou um engulho na consciência dos militares. Soa como algo mercenário, incompatível com o bendito juramento sacerdotal. Hoje, porém, isso contrasta com um voto de pobreza que eles não fizeram. São todos voluntários, é certo, mas não são mendigos e nem querem enricar. Desejam, tão-somente, que lhes dêem equipamentos, soldos condignos e farta munição para poderem cumprir a sua missão constitucional, na certeza de que têm famílias realmente assistidas na retaguarda das frentes para as quais irão com destemor.
Não é isso que vemos no Brasil de hoje. Revanchismo ou não, os militares são tratados como classe de segunda ordem. Perderam eles históricas e merecidas conquistas, como gratificação de tempo de serviço. Quem lhes tirou, confunde tempo de serviço à pátria com tempo de serviço a governos. Os inativos e pensionistas das Forças Armadas hoje são responsabilizados pela incapacidade do governo em reajustar os vencimentos dos militares. Afinal, dizem os engravatados, eles oneram demais a folha de pagamento. E os congêneres do funcionalismo público não implicam o mesmo ônus? Entra ano e sai ano, arremedos de reajuste vêm do governo, assim mesmo parceladamente, como lambuja a homens silentes por serem disciplinados. É a paga e o açoite do Estado a quem servem com extremada dedicação.
O fim da famigerada CPMF serve de pretexto para esse governo desonrar compromissos formalmente assumidos e, cinicamente, oferecer esmolas aos militares. Afinal das contas, devem compreender os homens de farda que os governantes têm compromissos com Cuba, com a Bolívia, com a pobre África, além de pagar mensalões e um sem número de indignidades. Se isso não der certo, esperem que no próximo almoço de fim-de-ano vamos embevecer os oficiais-generais com novas perspectivas e novas promessas, dirão eles...
Os Chefes Militares estão com sério problema. A insatisfação da tropa é uma realidade, mesmo que a hierarquia e a disciplina a contenha. Não são eles, temos certeza, coniventes com isso tudo, mas a incerteza de muitos outros oferece riscos à coesão que tanto prezamos.
A quem isso serve? Será que ao revanchismo idiota que ousa fazer dos militares cidadãos de segunda classe?
Os enroupados de “Armanis” e os de gravatas italianas finíssimas não têm os dedos nos gatilhos dos fuzis e não ostentam as espadas de Caxias, Tamandaré e de Eduardo Gomes. Esquecem que elas são poderosas, na guerra e na paz.
Pensem bem, engravatados, ao convocar as Forças Armadas Brasileiras para resolver os problemas causados pela desídia governamental.
Pensem bem se elas cumprem a missão pela própria missão, sem estarem refratárias, mas dispostas a servir a isso tudo que está por aí.
Até quando elas estarão dispostas a tão ingrata servidão?
Entretanto, continuam a crer em seus valores e em seus Chefes, ainda que repilam esmolas ou fortunas, que, acreditam, hão de ser rechaçadas pelos seus Comandantes, no exercício dos seus elevados cargos, com honra e altivez.
Será o apanágio dos braços fortes e mãos amigas.
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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
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