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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

CARTA AO SOLDADO


CARTA AO SOLDADO
Ao meu filho !

Faço justiça ao teu caráter e ao teu coração de pensar que não são necessários, nesta hora grave e solene, os conselhos de tua mãe. Até há dias, tu eras um brasileiro, apenas. Hoje, és um "soldado brasileiro". Perante Deus, que lê na minha alma e conhece minhas ações, posso erguer a minha humilde cabeça, convicta de que cumpri o meu dever de brasileira, criando-te, educando-te em condições de fazer de ti um patriota. O amor que deves à tua Pátria, meu filho, deve ser, tem de ser semelhante na capacidade de sacrifício e de abnegação ao amor que tenho por ti. O amor patriótico só é comparável ao amor maternal !

Cada fraca mulher está pronta a dar a vida pelo seu filho, como cada homem deve estar sempre preparado para dar a vida pela sua Pátria. A nenhum outro amor ele pode comparar-se, porque todos os amores estão na dependência da inconstância, do capricho, do prazer, do ciúme e do interesse, e o amor da Pátria não conhece restrições, não admite fadiga e se sobrepõe a todas as considerações do egoísmo e dos baixos instintos humanos.

Ama a tua Pátria sobre todas as coisas, pois que nada serias mais do que um pária se a Pátria não fizesse de ti um cidadão, se ela não te houvesse concedido, na comunidade humana, o nobre direito de ser alguém sobre a terra e se não te tivesse dado a família imensa e poderosa dos teus concidadãos. Ser meu filho é ter apenas uma pequena família, limitada pelos laços de sangue. Ser brasileiro é ter uma família de 40 milhões de irmãos, solidários no mesmo dever imprescritível, beneficiários das mesmas glórias, associados no mesmo destino.

A tua mocidade e teu nascimento fizeram de ti um soldado brasileiro. Eu, que sou tua mãe, que te criei e te defendi, coloco-me hoje sob a tua proteção, abrigo-me sob a tua defesa.

A honra da nossa Pátria é também a honra de tua mãe, e não hesito crer que tu saberás, em qualquer campo, defendê-la de qualquer ameaça e vingá-la de qualquer ofensa.

Olho hoje para ti com outros olhos. Esqueço que te vi, pequenino e frágil, no meu regaço, que te embalei nos meus braços e que te protegi com o meu amor. Vejo em ti apenas um homem, uma força ativa e consciente, uma energia resoluta: um "soldado". O quartel é hoje o teu lar; a tua mãe é hoje a tua Pátria.

Para ser um digno soldado não basta, porém, que a tua coragem e a tua dedicação estejam incondicionalmente ao serviço do nosso querido Brasil, que foi o nosso berço e que, espero em Deus, abrigará os nossos restos mortais para serem dissolvidos e integrados na beleza da terra brasileira. Não, meu filho! Não basta a coragem, não basta o amor. É preciso, também, que, sendo um soldado, tu tenhas o culto apaixonado da honra, a consciência imaculada e que professes a religião varonil do cavalheirismo.

É necessário que te estimes a ti próprio, que a tua alma limpa tenha a beleza da alma dos paladinos. Quanto mais honrada for a mão que empunha a espada, tanto mais forte e invencível ela será. Sê leal e generoso, embora enérgico e inflexível.

Não abuses da tua força contra os fracos, não desampares nunca a inocência. Assim, serás o digno soldado de uma Pátria magnânima, que nunca fez a guerra senão para desafrontar a sua dignidade.

Uma Pátria honrada precisa que a honra dos seus soldados seja inatacável, e antes eu quisera ver-te morto do que manchado com uma ação indigna, de que eu tivesse de corar à tua farda de soldado. Ela deve revestir a tua honra imaculada, como o vestido de noiva de tua mãe revestia a honra da sua mocidade.

O que eu te digo estarão a dizê-lo comigo, embora por outras palavras mais simples e mais belas, todas as mães brasileiras aos seus filhos, nesta hora em que o Brasil nos reclama a dádiva, mais que todas, sagrada, que nenhuma de nós pode recusar à sua Pátria e que de tão augusta majestade reveste a nossa maternidade.

A mão com que te abençôo não treme ao indicar-te o caminho do dever e da honra. O meu orgulho de patriota serve de bálsamo à minha dor de mãe.

O quartel é hoje o teu lar. O Exército é hoje tua família. Queira Deus que possas regressar brevemente aos meus braços, mas, seja qual for o prazo que o destino marque para a minha saudade, eu a sofrerei sem lastimar-me, confiante em que não voltarás para perto de mim sem haveres desafrontado a tua Pátria !

Durante vinte anos, tu te curvaste reverente diante de mim, beijando a mão que te acariciou e guiou. Hoje, sou eu que me inclino, respeitosa, diante de ti, porque tu és um "soldado brasileiro", porque tu representas uma partícula da Pátria, da sua coragem, da sua honra e da sua força".

Um comentário:

Anônimo disse...

É de se sentir muito orgulho ao se ver um filho honrando a farda do Exército Brasileiro,em defesa de sua Pátria.